A Mangueira é a campeã do Carnaval do Rio de Janeiro em 2019. A escola contou neste ano “a história que a história não conta”, sobre personagens importantes do país que não são retratados nos livros: índios, negros e pobres.
A Mangueira é a segunda maior vencedora do Carnaval do Rio, com 19 conquistas, atrás apenas da Portela. A última delas havia sido em 2016, com o enredo sobre Maria Bethânia, do mesmo carnavalesco deste ano, Leandro Vieira.
Foi difícil ver alguém sentado no sambódromo da Sapucaí durante a passagem da Mangueira no penúltimo desfile desta segunda (5). Foi fácil, porém, ver choro e olhos marejados ao som do refrão repetido em coro durante a cerca de uma hora de desfile.
Comuns também foram as manifestações em broches e placas relembrando Marielle Franco, vereadora do PSOL assassinada há quase um ano. A última ala levou à avenida homens e mulheres favelados que superaram o preconceito e alcançaram notoriedade, tendo à frente a viúva de Marielle, Mônica Benício. Antes do desfile, ela disse à Folha que aceitou o convite não para celebrar, mas por um ato político.
Atrás deles, vinham bandeirões com o rosto da parlamentar e de outros símbolos negros, como os sambistas Noel Rosa e Candeia, nas cores da escola, verde e rosa. Ao final, o deputado federal Marcelo Freixo e o vereador do Rio Tarcísio Motta (PSOL) carregavam junto a membros da escola um bandeirão com os dizeres “Índios, negros e pobres”.
A Mangueira desfilou caricaturas do que chamou de “heróis emoldurados”. Na comissão de frente, aristocratas andavam de joelhos, diminuídos ao lado de índios. Mais à frente, Pedro Álvares Cabral foi retratado como “171”, com roupa de presidiário.
Em outra ala, D. Pedro 1º surgiu em cima do cavalo, como eternizado no quadro “Brado do Ipiranga”, e depois jocoso, num burro. O Marechal Deodoro da Fonseca, que assumiu a República mas era monarquista, apareceu com o símbolo da república no peito e uma coroa na cabeça.
Entre os personagens que a escola homenageou estão Cunhambebe, chefe indígena que comandou índios tamoios contra colonizadores portugueses no século 16, e Luísa Mahin, africana vendida no Brasil que articulou revoltas de escravos no século 19.
]Um carro trouxe “o sangue retinto por trás do herói emoldurado”, com uma versão do Monumento às Bandeiras manchado de vermelho. Outro recriou o quilombo dos Palmares, com o presidente de honra da escola, o músico Nelson Sargento, representando o líder Zumbi.
Em uma das alegorias que retratavam a luta negra, porém, a maioria das desfilantes eram brancas. Em compensação, em um carro que trazia os dizeres “Ditadura assassina” e livros gigantes com imagens de Princesa Isabel, Duque de Caxias e outros, todas as empurradores eram mulheres negras -normalmente são homens.
A Mangueira, que ficou em quinto lugar no ano passado mas já era um dos desfiles mais aguardados neste ano, saiu da avenida muito aplaudida, aos gritos de “é campeão”.
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