O que as apresentações do último Video Music Awards (VMA), a premiação da MTV americana, os clipes de Anaconda e Booty, de Nicki Minaj e Jennifer Lopez, e o figurino de Miley Cyrus, que vem se apresentando com o que pode ser descrito como um fraldão sexy sobre os quadris, têm em comum? Uma mudança de gosto – e de comportamento – do público americano. O chamado “popozão”, paixão antiga do brasileiro, conquistou espaço no país obcecado pelos seios e pela magreza. Foi tanta poupança, como diria Didi Mocó, no VMA deste ano que a associação de pais que acompanha a programação da TV americana chiou, apesar de a festa da MTV ter sido puro recato em comparação com a do ano passado, aquela em que Miley surtou, pôs a língua para fora e dançou o twerk – palavra aliás derivada da nova mania americana, a de mexer as cadeiras. “Festa machista”, esbravejaram. Reclamações à parte, em uma coisa os pais têm razão: era derrière para todo lado, uma explosão que reflete um movimento não só da indústria fonográfica, dominada em seu segmento jovem pelo hip hop, estilo capaz de fazer mais de 10 bilhões de dólares por ano só nos Estados Unidos. Na terra de Beyoncé, o culto ao “booty” movimenta também as telas de TV e cinema, o mercado das academias de ginástica, e é, claro, o da cirurgia plástica.
Há ainda mudanças linguísticas, como a incorporação de twerk ao vocabulário oficial. O termo, que representa um rebolado feito pelos negros nos EUA, foi aceito pelo tradicional Dicionário Oxford, o mais extenso da língua inglesa. Até o selfie, outro termo recente do dicionário britânico, ganhou uma variação, o “belfie”, que contempla o popozão. Belfie nada mais é que o “selfie do traseiro”. Como toda novidade linguística, essas espelham transformações na sociedade americana, que, ao lado da cultura do hip hop, vem incorporando traços de uma crescente comunidade latina.
“O novo padrão de beleza é uma mistura da beleza das negras e latinas, com corpos mais arredondados e lábios grossos, mas com padrões ocidentais, como cabelos lisos e loiros, e pernas e narizes finos, que são elementos da mulher branca”, diz Denise Bernuzzi de Sant’Anna, professora de História da Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP) e autora do livro História da Beleza no Brasil, que será lançado em outubro pela editora Contexto. A descrição, como se vê, representa um padrão de beleza novo.
Quem assistiu de camarote ao começo dessa mudança – e aproveitou para lucrar – foi o personal trainer Leandro Carvalho. Há vinte anos nos Estados Unidos, o mineiro tem um programa especial só para aumentar, modelar e fortalecer os glúteos. “A explosão latina, que evidenciou Jennifer Lopez, e depois o hip hop e o R&B, que deram destaque a artistas como Beyoncé, fizeram com que o corpo com curvas se tornasse moda por aqui”, diz Carvalho. Ele se especializou ainda mais na região ao conhecer, há dez anos, a modelo Alessandra Ambrósio. Ela o contratou para esculpir a parte de trás do corpo, com uma ressalva: as pernas deveriam permanecer finas para que continuasse a ser aceita nas passarelas.
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