Sem barreiras físicas para conter o mosquito Aedes aegypti, o Ministério da Saúde já admite que a epidemia de zika irá atingir todo o País. A expectativa, no entanto, é que com o combate intenso que está sendo feito aos focos do mosquito e com as novas informações que surgem sobre as consequências da infecção pelo vírus, a epidemia não seja tão severa como aconteceu nos Estados do Nordeste no ano passado.
O número exato de casos de infecção pelo zika não é certo no Brasil, uma vez que a doença tem sintomas leves e a maioria dos infectados sequer procura os serviços de saúde. O que se sabe hoje são quantas pessoas têm complicações em função da transmissão do zika, já que os testes para detectar a presença do vírus só estão disponíveis para alguns casos na rede pública. Na rede privada não há cobertura pelos planos de Saúde.
Além do Brasil, a epidemia de zika está presente com transmissão local em outros três continentes, Ásia, África e Oceania, o que a torna uma pandemia.
Estas são algumas das conclusões da entrevista exclusiva que o diretor de de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, que está à frente do combate ao zika no ministério deu ao R7, em Brasília. Leia abaixo trechos da conversa:
Quando a zika irá se tornar uma doença que vai atingir grande parte da população brasileira como a dengue ou a gripe? Todo mundo conhece alguém que já teve dengue. Quando isso acontecerá com a zika?
Cláudio Maierovitch — Depende onde. No nordeste já é assim. E parece que atualmente em outros lugares também inclusive aqui no Centro-Oeste. A tendência natural é que haja expansão para o resto do País agora no período das chuvas. Mas com todo o trabalho de prevenção que está sendo feito nossa expectativa é que não chegue a ter um impacto tão grande [no resto do País] como houve no Nordeste no ano passado.
A expectativa então é que vá para o Brasil inteiro?
Maierovitch — No Brasil todo. Não há como deter a disseminação de um vírus que causa uma doença tão leve [isso sem considerar os casos raros que resultam em complicações] que é transmitido por um vetor que está espalhado de maneira tão ampla. Mas o que é possível, e o que está se procurando fazer, é reduzir o impacto dessa disseminação. Que tenhamos casos, mas não uma epidemia tão intensa.
Quando teremos exames para detectar o zika na rede pública? E exames rápidos?
Maierovitch — Atualmente, só existem testes confiáveis para a zika para identificação do vírus quando a pessoa está com a doença aguda [com sintomas], baseado em técnicas de biologia molecular, PCR, ele já existe em quase todos os laboratórios centrais dos Estados brasileiros à disposição da rede pública.
Isso não significa que qualquer pessoa que tenha suspeita de zika vá ter material encaminhado para exame. Há prioridades definidas: gestantes, crianças com microcefalia, pessoas com Síndrome de Guillain-Barré e para identificação de casos novos em lugares onde ainda não foi identificado o vírus.
Ou seja, apenas quando existe uma complicação, ou um risco ou para a identificação da dinâmica de circulação do vírus.
Podemos considerar a epidemia de zika uma pandemia?
Maierovitch — Pandemia tem definições diferentes. Uma delas diz que pandemia é quando uma epidemia está em quatro continentes diferentes. A zika está em quatro continentes: americano, africano, asiático e Oceania, com transmissão autóctone. Então pode ser considerada uma pandemia.
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