O caso da veterinária Pryscila Andrade, de 31 anos, que morreu com suspeita de ter contraído a Síndrome de Haff, conhecida como doença da urina preta, após consumir uma arabaiana, chamou a atenção do país. Com a aproximação da Semana Santa, feriado católico em que muitas pessoas optam por consumir frutos do mar, o TNH1 falou com o infectologista doutor Fernando Maia.
Ele explicou que, como foram registrados esses casos recentes no estado vizinho, o recomendado é que o consumidor opte pelo peixe pescado em água do alto mar, considerando que a alga que contamina o pescado é encontrada na superfície, próximo à aguas poluídas.
“Essa alga (que provoca a toxina) existe perto da superfície do mar e ela se multiplica mais em água poluída. Por isso que esses casos de doença de Haff acontecem em pessoas que moram em cidades grandes, porque geralmente na beira das cidades grandes o mar é mais poluído. Alguns casos aconteceram em Salvador e Recife. Aqui em Alagoas já houve relato desses casos, faz um bom tempo que não aparece, mas há alguns anos houve alguns casos de doença de Haff por aqui. Faz um bom tempo que não aparece, mas sempre tem essa possibilidade. Então, qual é a recomendação? Nessa época agora que está acontecendo (os casos), não consumir peixe que é pescado perto do litoral. O exemplo no caso dessa moça, ela comeu arabaiana, que é um peixe que a gente pesca aqui perto da costa, então nessa situação o ideal é pescar peixe de água profunda, peixe que se pesca em alto mar ou peixe que se cria em cativeiro, tipo tilápia, que o pessoal cria em açude, essas coisas”, recomendou o médico infectologista.
Segundo o doutor Fernando Maia, mesmo que as pessoas façam bem o cozimento do peixe, não há como eliminar a toxina caso o animal esteja contaminado.
“A recomendação é essa (consumir peixes pescados no alto mar ou de cativeiro) porque infelizmente não dá para reconhecer o peixe que está contaminado, porque essa toxina não causa alteração na cor do peixe, não causa alteração no sabor da carne também. E essa toxina não é destruída pelo cozimento. Então não adianta dizer: ‘Ah, comeu o peixe cru’. Não, mesmo o peixe cozido pode acontecer isso. A recomendação é não consumir peixe que foi pescado em água rasa próximo à costa. O ideal é consumir peixe do alto mar ou peixe de açude, criado em cativeiro”, reforçou o médico.
Quais peixes podem causar o problema?
De acordo com levantamento do site Metrópoles, os estudos científicos publicados até o momento sobre a doença no Brasil relatam que os casos aconteceram após a ingestão das seguintes especécies:
- Tambaqui
- Olho de boi
- Badejo
- Pacu-manteiga
- Pirapitinga
- Abaiana (este último foi o peixe ingerido pela veterinária).
Como age a doença?
Fernando Maia detalhou como é o passo a passo da infecção após o consumo de um peixe contaminado pela toxina.
“Essa doença é causada por uma alga que existe no mar e que o peixe come. Essa alga produz uma toxina, que fica impregnada na carne do peixe. Quando a gente come o peixe, a gente ingere junto a toxina. Quando a toxina entra no organismo em quantidade maior, ela vai para a nossa musculatura. Ela digere os músculos e causa fraqueza, falta de equilíbrio, a pessoa não consegue ficar em pé. Esse músculo vai sendo digerido e ela solta uma proteína do músculo no sangue, chama-se mioglobina. Essa mioglobina quando chega nos rins, obstrui os ruins. Um sinal precoce dessa doença é que a urina fica muito escura, quase preta, por isso que o pessoal chama de doença da urina escura”, informou o infectologista.
“O que pode acontecer? Essa fraqueza muscular pode ser tão grande que a pessoa não consegue respirar, pode dar insuficiência respiratória; ou também pode acontecer dessa lesão renal fazer falência dos rins. Por isso é tão grave, porque pode dar insuficiência respiratória e lesão nos rins, por isso é tão grave e pode até matar, como infelizmente aconteceu com essa moça em Recife”, completou.
É a suspeita do que aconteceu com a veterinária Pryscila Andrade. Ela chegou a ser socorrida e passou 12 dias internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital particular do Recife, mas não resistiu e faleceu nessa terça-feira, 2.
“Quando a gente foi socorrer Pryscila, ela estava com fortes dores, não conseguia se mexer de tanta dor. Ela ficou paralisada porque não conseguia nem que tocasse nela. Eu também comecei a apresentar os sintomas, fiquei da nuca para o quadril paralisada com muita dor, eu não conseguia mais andar. Eu pensei que fosse um estresse devido à situação, por estar vendo minha irmã naquela situação”, contou Flávia, irmã de Pryscila.
Em quanto tempo aparecem os sintomas?
“Depende da quantidade de toxinas que a pessoa comeu. Pode ser poucas horas depois de comer e até dois dias depois. Geralmente é rápido”, afirmou Fernando Maia.
Em publicação no instagram há seis dias, Flávia disse que consumiu o peixe arabaiana na sexta-feira véspera de Carnaval e que sentiu sintomas leves, mas que associou a outros possíveis problemas.
“No primeiro consumo, me senti mal, as empregadas também se sentiram mal, mas a gente confundiu com dor de coluna, dor de estômago, dor abdominal. No segundo consumo, além de mim, e das secretárias, meu filho e minha irmã Priscyla consumiram o peixe. Meu filho teve diarreia e as secretárias ficaram com dor nas costas. Eu senti dores no corpo, enjoo, diarreia, e minha irmã ficou com muita dor e falta de ar. Ela ficou com o fígado, os rins e o pulmão com problemas”, relatou Flávia, que cobrou mais estudos sobre a doença.
O infectologista citou que a maioria dos casos é leve, mas que é preciso procurar um hospital o mais rápido possível caso a pessoa apresente sintomas fortes.
“A maioria dos casos é leve, reverte bem tranquilo sem precisar fazer muita coisa. Geralmente hidrata bem para ajudar na função renal, para ajudar a eliminar mais rápido e normalmente a pessoa se recupera. Mas há casos em que é preciso até internar para fazer isso, nos casos mais severos. A recomendação é se começar a perceber alguma coisa desse tipo, é interessante procurar auxílio do serviço de saúde o mais rápido possível para que se possa fazer avaliação”, disse o médico Fernando Maia.
0 Comentários