Do Jornal Ciência
Pesquisadores da Cleveland Clinic, nos Estados Unidos, esperam realizar, nos próximos meses, o primeiro transplante de útero. O intuito é que o transplante seja temporário.
O útero seria removido após a mulher ter um ou dois bebês, pois é preciso tomar medicamentos regularmente para que ele não seja rejeitado pelo organismo.
Claro que sempre existe a possibilidade da adoção e a maternidade não é uma obrigação. Muitas mulheres, por questões pessoais, culturais ou religiosas, acabam deixando isso de lado.
Prós e Contras
Os úteros seriam retirados de mulheres já mortas, o que significa uma necessidade em tomar especial cuidado com sua condição. A gestação, em um caso desses, seria arriscada demais; especialmente devido à medicação necessária contra a rejeição do útero, levando em conta que o feto também estaria sujeito a ela.
Oito mulheres americanas já estão em exames na clínica, esperando por uma possibilidade de realizar o transplante. Uma delas, uma jovem de 26 anos com duas crianças adotadas, diz que ainda quer ter a chance de experimentar a sensação de estar gravida e dar à luz.
“Eu quero o mal-estar pela manhã, as dores, os pés inchados. Eu quero sentir o bebê se mexer. Eu quero isso há muito tempo, nem sei dizer desde quando”, afirma. Ela estranhou o fato de não ter menstruado até os 16 anos, quando descobriu que não tinha útero. A falta de útero afeta uma em cada 4.500 mulheres.
O médico Andreas Tzakis, que participa do projeto, afirma que as mulheres foram informadas sobre os riscos e benefícios. A ideia é fazer o transplante dez vezes e avaliar os resultados. Ele acredita que as drogas antirrejeição não afetarão mais as mulheres com transplante de útero do que aquelas que já engravidaram depois de receber rins ou fígado, por exemplo.
Ainda não se sabe qual é a verdadeira relação das drogas com esses acontecimentos, entretanto, nesses casos, há um maior risco de pré-eclâmpsia (uma alteração na pressão arterial da mãe) e de o bebê nascer um pouco menor do que a média.
Homens grávidos?
Considerando as possibilidades citadas acima, surge a questão: seria possível trocar a mulher por um homem no processo? E a resposta, surpreendentemente, é positiva.
“Seria uma enorme iniciativa cirúrgica e endócrina e envolveria não só a criação de uma vagina, mas também uma reconstrução cirúrgica de toda a pélvis por algum especialista em cirurgia transgênera”, informou a doutora Rebecca Flyckt, ginecologista-obstetra e especialista em endocrinologia reprodutiva.
“Depois desse procedimento e do enxerto de um útero doado, seria necessário um complexo regime hormonal para suportar a gravidez antes e depois da transferência do embrião. ”
No procedimento tradicional, a mulher só depende de esperma doado, uma vez que já tem seus próprios óvulos. Entretanto, os embriões seriam criados usando esperma do próprio paciente e os óvulos de um doador, enquanto o que ocorre atualmente é o contrário.
A Dr.ª Flyckt já antecipou que tal descoberta levantaria esse tipo de curiosidade. “Eu imaginei que haveria interesse nessa aplicação (…) pela comunidade transexual. Todavia, pelo menos na presente situação, nosso protocolo é limitado apenas a mulheres sem úteros funcionais.”
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