O olhar distante do funileiro mecânico Eduardo Santos Vilela, enquanto busca no celular imagens do filho encontrado morto por ele em um matagal no conjunto Maceió I, no Eustáquio Gomes, no mês passado, aparenta estar longe de encontrar alento diante dos últimos momentos de dor.
Ainda tentando administrar o trauma de ter encontrado o filho com sinais de tortura, o mecânico recebeu a reportagem do TNH1. Para ele,o filho, Carlos Eduardo, de 19 anos, foi assassinado sem motivo, no último dia 29 de julho, simplesmente porque foi levar um colega de 14 anos à casa de um parente, de moto, em um local aonde nunca tinho ido antes. “O Carlos era um menino bom, estudioso e sempre me obedeceu. Ele quis ajudar o colega com a carona e infelizmente nunca voltou”, lamenta.
Eduardo tem uma pequena oficina mecânica no bairro do Benedito Bentes, onde trabalha há 15 anos. “À medida que ele foi crescendo, quis me ajudar na oficina e trabalhou comigo até terminar os estudos. Fez um curso de administração e, depois do estágio, conquistou seu primeiro emprego com carteira assinada como auxiliar administrativo”, conta o mecânico. “Com um mês na empresa, o patrão me disse que estava muito satisfeito e que planejava incentivar o crescimento dele dentro da firma”, relembra.
Tudo mudou quando Carlos Eduardo levou o adolescente Welder Oliveira do Nascimento até o conjunto Maceió I. Segundo testemunhas, os dois foram parados por um grupo de jovens que questionaram quem eram eles e de onde vinham. “Me disseram que eles foram levados por esse grupo e depois já apareceram mortos dentro do mato”, conta. “Eu soube que esse local onde encontrei meu filho já foi usado outras vezes para desovar outros cadáveres”.
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Desaparecimento e morte
Com a notícia de que o filho não tinha dormido em casa de domingo para segunda-feira e também não estava na casa da namorada, Eduardo passou a circular no Maceió I com dois amigos, na tentativa de encontrar algum sinal. Ao encontrar a moto com outras pessoas, o mecânico buscou ajuda na delegacia do bairro e, enquanto aguardava uma guarnição, recebeu a primeira foto do que seria o corpo de Cadu.
Eduardo, que é casado e pai de outro filho de dez anos, demonstra profunda dor ao relembrar como encontrou o corpo do filho de bruços, com ferimentos profundos na cabeça e mãos para trás. “Perdi meu chão quando percebi que ele estava sem um dos olhos e com a orelha arrancada”, relembra, com lágrimas nos olhos. “Parecia um filme de terror”.
Eduardo assegura que Cadu tinha um perfil tranquilo e era muito conhecido por clientes e amigos. “Ele vivia em função do trabalho e do filhinho dele, de cinco meses. Nem beber ele bebia”, diz. A moto usada pelos dois jovens foi queimada, em um momento de revolta da família.
“Eu sei que se eu for me vingar, serei preso. Entreguei a Deus e espero que a justiça dos homens também aconteça, mas mesmo que todos os envolvidos sejam presos, nada voltará a ser como antes. A Justiça nunca será completa pra gente, porque nada trará nosso filho de volta”, desabafa o pai.
“O que eu espero é que nenhuma família passe pelo que estamos passando, e para isso é preciso tirar esses assassinos das ruas, proteger a população mais pobre de tanto sofrimento”, cobra Eduardo. “Minha esposa está sob efeito de medicamentos fortes e numa tristeza de partir o coração”.
O que diz a polícia
A equipe da delegada Taciana Ribeiro, da Delegacia de Homicídios da Capital, está à frente das investigações do duplo homicídio e informou ao TNH1 que já tem uma linha de investigação determinada, mas que não poderia passar mais informações para não atrapalhar a conclusão do caso.
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