A mãe da menina de 8 anos que teve os cabelos cortados quando retornava para casa, em um transporte escolar pertencente ao município de Rio Largo, disse que a filha está com medo de voltar a estudar. Karla Santos contou que a menina não quer entrar no ônibus porque não se sente segura e acha que vai ser agredida novamente. Desde quinta-feira (17), a criança está em casa, sendo assistida pela família.
“Eu tenho conversado bastante com ela. Falo que não precisa ter medo, que a tia vai estar lá e não vai deixar ninguém fazer mal a ela novamente. Mesmo assim, ela não quer voltar para a escola, pelo menos por enquanto”, relatou a mãe.
A menina está cursando o 3º ano do ensino fundamental e as aulas começaram há pouco mais de duas semanas. Como o ano letivo ainda está no início, Karla disse que não vê prejuízos e prefere deixar a filha se sentir mais segura para não gerar um trauma ainda maior. “Estou respeitando o tempo dela”.
Em casa ela tem passado os dias assistindo a vídeos, brincando e levando uma rotina normal. A parte cortada do cabelo foi próxima à nuca e a mãe, que é cabelereira, tem feito com que ela não perceba o corte para não interferir na autoestima da menina.
Segundo Karla, a criança que cometeu a agressão já foi identificada, um menino de 6 anos que já teve outros problemas na escola.
“Não enxergo isso como um ato de racismo ou algo parecido. Não aconteceu porque minha filha é negra. Esse coleguinha já agiu de forma parecida com outras crianças da escola. Já chegou a apontar a tesoura para outra criança, pelo que vieram me contar. É preciso focar nessa criança, chamar os pais para reforçar o comportamento dele”, disse a mãe.
Karla disse que a secretária de educação, a diretora e a coordenadora da escola conversaram com ela e ficaram de dar um posionamento sobre a criança. “A escola não está dando suporte nenhum até agora, para conversar com os pais desse menino”.
O g1 entrou em contato com a Prefeitura de Rio Largo, mas não havia obtido resposta até a última atualização desta reportagem.
Sobre as meninas mais velhas que a filha disse que estavam rindo da situação quando ela acordou, Karla disse que elas foram coniventes. “As meninas não fizeram nada, mas também não chamaram ninguém para evitar. Não pode ser assim. Elas foram coniventes. Esses valores são os pais que precisam mostrar. Eu mostro isso com os meus e espero que os outros pais façam o mesmo com os seus”.
Mãe diz que não pretende processar ninguém
Apesar do trauma e dos prejuízos emocionais, Karla disse que não pretende abrir processo contra ninguém. Ela contou que foi procurada por alguns advogados e pela Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Alagoas.
“Não quero confusão, não quero processo, quero solução. Tenho medo que, assim como aconteceu com minha filha, possa acontecer com outras crianças. Futuramente pode afetar meus outros filhos e outras crianças. O que eu quero é que pais, escola, direção observem onde está o erro, o que pode ser feito para que essa criança se torne uma pessoa boa, que respeita os colegas. E não que ela pratique atos de vadalismo como esse”, disse a mãe.
Além da menina de 8 anos, Karla tem outros sete filhos, com idades entre 4 e 19 anos. O mais velho, Claywer Guilherme dos Santos, que estaria completando 20 anos, morreu em fevereiro de 2021 após sofrer uma descarga elétrica quando saiu da piscina para checar o celular que estava carregando. Ao pisar no cabo, recebeu o choque, bateu a cabeça e faleceu.
“Quero que minha filha supere o que aconteceu com ela e siga em frente”, finalizou a mãe.
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