A generosidade nunca foi tão necessária no trânsito quanto tem sido para os pedestres e ciclistas que tentam cruzar o trecho duplicado da AL-101 Sul e Marechal Deodoro. Os problemas existentes desde a inauguração da rodovia só têm se agravado com o passar do tempo, fazendo crescer o número de vítimas de acidentes na estrada, que se estende de Maceió à Barra de São Miguel. Para conseguir atravessar a pista, é preciso contar com a boa vontade e o respeito dos condutores, já que não há passarelas, ciclovias e nem iluminação. Além disso, as três lombadas eletrônicas que haviam sido ins taladas e ajudavam a reduzir a velocidade dos veículos foram retiradas, tornando a situação ainda mais complicada.
Diante de tantos riscos, o medo é algo comum entre as pessoas que moram na região ou precisam, por algum motivo, transitar a pé ou de bicicleta pela via. É o caso de Maria José da Silva, de 54 anos. Moradora da Barra Nova, ela conta que já perdeu as contas dos acidentes com morte que já presenciou. “Isso aqui é horrível para os pedestres. Sempre tem acidentes. É morte e mais morte. Eu tenho uma neta que estuda do outro lado da pista e precisamos atravessar a rodovia todos os dias para levá-la à escola. Temos que contar com a ajuda de um motorista de coração bom que pare o carro e deixe a gente atravessar, afirma.
De fato, ao longo de toda a estrada, os pedestres podem contar apenas com algumas faixas pintadas no asfalto. Não existem passarelas que possam tornar mais fácil o trânsito de pessoas a pé pelo local. Para piorar, as lombadas eletrônicas que haviam sido instaladas nessas faixas foram desligadas e, posteriormente, retiradas das margens da rodovia. Agora, os condutores de carros de pequeno e grande porte não se sentem mais na obrigação de reduzir a velocidade em áreas urbanas e nem de dar a preferência ao pedestre, como prevê o Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
Essas lombadas facilitavam muito a nossa vida. Agora ficamos sem passarela e sem lombada, correndo risco de atropelamento e de morte, ressalta a moradora.
O superintendente de Transporte e Trânsito do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), Zeferino Alencar, as lombadas foram retiradas da AL-101 Sul depois que o Tribunal de Contas mandou suspender, por liminar, a contratação da empresa que havia sido escolhida por meio de processo licitatório. Inicialmente, as lombadas foram apenas desligadas, mas durante o processo, o contrato venceu e a responsável pelos equipamentos fez a remoção deles da rodovia.
Uma empresa que não participou do processo foi, estranhamente ao Ministério Público de Contas denunciar a licitação e o Tribunal de Contas mandou suspender a contratação por meio de liminar. Durante esse processo, o contrato vigente, que monitorava 32 faixas em todo o Estado, venceu e os radares eletrônicos foram retirados”, conta Zeferino.
O problema também vem afetando a dona Edineuza Maria de Lima Nascimento, de 49 anos, que há 8 trabalha em uma barraca montada às margens da rodovia. Moradora da Ilha de Santa Rita, ela destaca que os transtornos para quem reside na região só aumentaram desde a duplicação da AL.
Antes de dividir a pista era tudo mais tranquilo. O radar veio e melhorou. Depois foi retirado e começou tudo de novo. Precisamos de uma passarela por aqui porque já estamos cansados de tantos atropelamentos e mortes. Eu vejo a hora de os carros passarem com tudo, invadirem o acostamento e derrubarem a minha barraca. No fim de semana é pior ainda. Sábado e domingo ninguém consegue atravessar, ressalta.
Ela também reclama da escuridão ao longo de toda a rodovia. Os postes existem, mas não há uma lâmpada sequer na AL-101 Sul. “Só tem os postes. Lâmpada que é bom, nada. Imagine precisar atravessar a pista no escuro, sem lombada e sem passarela. Isso não existe”, diz a vendedora.
Outro problema bastante discutido desde a inauguração da duplicação é a inexistência de uma ciclovia, por onde as pessoas que fazem uso da bicicleta para trabalhar ou passear possam trafegar com maior segurança. O criador de animais José Roberto da Silva, de 39 anos, usa o veículo de duas rodas todos os dias, no trecho que vai da Massagueira ao Francês, e também é só reclamação.
Eu ando sempre pelo acostamento para evitar ser atropelado, mas em uma pista perigosa como essa nunca se sabe o que pode acontecer. Um dia desses encontrei três cavalos mortos na pista porque os carros vêm correndo muito e, quando se dão conta de que tem um animal na estrada, não dá tempo de parar. Ando de bicicleta aqui porque é o jeito, é a forma que tenho de seguir para o trabalho”, ressalta.
Todos os problemas relatados pelas pessoas que trafegam pela AL-101 Sul são velhos conhecidos do DER, responsável pela rodovia estadual. Segundo Zeferino, com o desligamento das lombadas, o órgão tem tentado minimizar os riscos para os pedestres com a colocação de cones na pista e a manutenção, sempre que possível, de equipes de fiscalização em pontos e horários estratégicos.
Ele admite que a situação é complicada na principal rodovia de acesso ao litoral sul do estado e conta que um novo processo de licitação está sendo iniciado para que haja a contratação de uma empresa para implantação de novos radares eletrônicos.
Nesses pontos onde foram retirados os radares, foram colocados os agentes no momento de maior intensidade de tráfego. A presença deles inibe um pouco os motoristas, mas sabemos que não é o suficiente. Nos próximos dias, devemos colocar taxas na pista para que haja uma redução da velocidade dos veículos”, conta Zeferino, destacando que não há prazo definido para que a licitação seja concluída.
Já em relação às outras deficiências, ele conta que não existe previsão para que sejam executadas. Foram feitos projetos para a construção de passarelas e ciclovia, além da colocação de iluminação ao longo da AL-101 Sul, mas eles atualmente passam por alguns ajustes técnicos. “Não há nada fechado ainda. Essas questões estão em fase de estudo”, afirma.
Quando questionado a respeito da falta de iluminação na estrada quase dois anos depois dela ter sido inaugurada com festa pelo governo do Estado, o representante do DER diz que os recursos destinados à obra só deram para construir a pista. As outras questões essenciais para a segurança da população ficou para um segundo momento.
O correto é que isso também tivesse sido feito, se houvesse recurso para fazer tudo de uma vez. O que deu para fazer foi a rodovia. Tentamos resolver uma parte do problema, que eram os constantes congestionamentos enfrentados na região, e agora vamos tentar ir resolvendo os outros, falou.
Gazeta Web
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