Alagoano de Joaquim Gomes, o mestre Nelson da Rabeca traduz a riqueza da cultura alagoana nas músicas que compõe, na história que carrega e no talento para tocar e construir artesanalmente o instrumento que mudou a vida dele, a rabeca. Nesta terceira reportagem da Série Mestres do Saber, a Agência Alagoas mostra a história do cortador de cana que virou músico.
Foi só com 54 anos, após trabalhar décadas no corte da cana, que Nelson dos Santos teve o primeiro contato com o que viria a se transformar em ofício e prazer. Hoje, aos 73 e sem nenhuma saudade dos tempos de canavial, o mestre já confeccionou mais de 6 mil rabecas e apresenta seu trabalho no Brasil e no mundo.
“Eu chego em outro país e ninguém entende a minha fala. Mas a música é uma fala que todo mundo entende, até quem não estudou, como eu”, filosofa, logo após informar sobre os shows que irá fazer em Brasília e na Noruega ainda este ano.
Com três CDs lançados e um DVD que reúne o trabalho musical desenvolvido ao longo de quase 20 anos, Nelson não sabe explicar como aprendeu a tocar o instrumento que, com o tempo, começou a confeccionar, mas sabe que o interesse pela música sempre existiu: “Parece que nasceu junto”, diz. Tanto é que o mestre da rabeca toca em uma afinação própria, criada sem nenhum estudo ou conhecimento técnico e que o distingue no cenário musical.
“Até hoje eu não sei como foi isso. Nunca tive nada, nunca estudei. Acho que foi uma graça que Deus me deu. Devo tudo que tenho na vida à rabeca e nunca enjoo dela”, confessou o mestre, que deixou a vida de cortador de cana quando percebeu que a renda que conseguia em uma tarde tocando rabeca para os turistas na Praia do Francês era equivalente a um mês de trabalho pesado no canavial.
Segundo ele, tudo começou quando viu um violino pela televisão e se apaixonou pelo instrumento. Ficou tão apaixonado que não sossegou até fazer, ele mesmo, um exemplar para si. Daí por diante, não parou mais. O facão que outrora cortava cana, hoje esculpe com agilidade e precisão pedaços de madeira que dão forma e som à cultura alagoana.
“Tenho um violino que ganhei de presente, mas a rabeca que eu faço é muito melhor. Pode até ser feia, mas o som é bom. Duvido um violino ser tão forte e resistente”, desafiou Nelson, em meio a uma dúzia de rabecas em construção nos fundos da casa onde mora, em Marechal Deodoro.
Em 2009, o mestre Nelson da Rabeca foi selecionado pelo Conselho Estadual de Cultura de Alagoas para integrar o Registro do Patrimônio Vivo do estado. A preservação do saber do rabequeiro autodidata é assegurada pelo repasse dos conhecimentos musicais para os filhos e netos, além das oficinas e palestras que ministra por todo o país.
Fonte: Agência Alagoas
A vida desse nobre nordestino sim, merecia um filme.