A Praia do Saco, em Marechal Deodoro, município do Litoral Sul de Alagoas, está entre as praias do litoral de Alagoas que têm sofrido com o processo de erosão marinha. Segundo o coordenador de Gerenciamento Costeiro do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL), Ricardo Cesar, o órgão estima que a praia já perdeu cerca de 90 metros de faixa de areia por causa do fenômeno.
“Foi um avanço de cerca de 90 metros. Onde tem a primeira casa na praia, tinha um campo de vôlei e uma rua para chegar na praia e hoje o mar está ao lado da casa. Tem várias obras de contenção de erosão marinha implantadas e houve um recuo de dezenas de metros. Há décadas que vem se percebendo o avanço do mar. Esse fenômeno se tornou notório com a urbanização mais consolidada na zona costeira do estado a partir da década de 80”, afirmou.
Ainda de acordo com Ricardo Cesar, também têm sido observados processos erosivos no Povoado Barra Nova e na Praia do Francês. “Na própria ilha de Santa Rita, na Barra Nova, área de estuário, temos graves processos erosivos com alterações bastante significativas da linha de costa. Hoje também com obras de contenção implementadas e com solicitações de estudos para outras. E, no Francês, na área mais central também há um recuo já significativo da faixa de areia, com o mar durante as marés mais cheias chegando próximo a urbanização, reduzindo a faixa recreativa de praia nessas marés”, disse.
Segundo o coordenador de Gerenciamento Costeiro do IMA/AL, existem vários fatores que geram o processo erosivo: déficit de sedimentos; aquecimento global e mudanças climáticas; e ocupações urbanas próximas à praia. “É uma tendência da nossa orla por falta de sedimentos para recomposição das praias, agravada pelos efeitos das mudanças climáticas que elevam os níveis dos oceanos, produzindo eventos climáticos mais intensos, os quais incidem diretamente na linha de costa agravando a erosão”, explicou.
Ainda segundo Ricardo Cesar, é possível evitar a erosão marinha, mas não completamente. “O que se busca no momento é diminuir as mudanças no clima e alternativas adaptativas de intervenções de engenharia para conter o avanço do mar com obras rígidas ou engorda de praia, recomposição da faixa de praia com areia do leito oceânico”, afirmou.
O aposentado José Benedito dos Santos possui uma barraca há 16 anos na Praia do Saco e conta que percebeu o fenômeno. “Há uns 10 anos, a primeira casa tinha 60 metros de terra seca na frente dela, tinha uma estrada de barro e foi avançando”, disse.
O comerciante Iracktam dos Santos é morador da Massagueira e frequenta a Praia do Saco desde a infância. Segundo ele, o avanço se tornou maior a partir do ano de 2010. “Avançou muito, principalmente, depois daquela cheia de 2010. Acredito que mais de 30 metros”, afirmou.
Outros locais da costa alagoana são afetados pelo avanço do mar
Uma análise recente produzida pelo site de hospedagem Hawaiian Islands com base em dados do Centro Conjunto de Pesquisa da Comissão Europeia apontou que a Praia do Gunga, no município de Roteiro, no Litoral Sul de Alagoas, deve perder 63,3 metros de faixa de areia até o ano de 2100. Na análise, a Praia do Gunga ficou na 10ª colocação entre as praias do continente que mais devem perder litoral.
No Litoral Norte do estado, no município da Barra de Santo Antônio, por exemplo, a erosão costeira tem causado diversos estragos em residências localizadas na Ilha da Croa. Casas repletas de rachaduras e que perderam os quintais para o mar.
Outro exemplo é a capital alagoana, onde a erosão marinha atinge 12 pontos da orla, que vão da Praia do Pontal da Barra até a Praia da Sereia, em Riacho Doce. O avanço do mar vem causando estragos e afeta a passagem de pedestres e ciclistas no calçadão.
A Prefeitura de Maceió iniciou em agosto do ano passado intervenções para frear a erosão da costa da capital. Segundo a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminfra), as obras já estão em processo de finalização em pontos nos bairros de Jatiúca e Jacarecica. A obra se concentra também no Sobral e, em breve, começará no Pontal.
Ao todo, 2,4 quilômetros receberão blocos de concreto pré-moldados e anéis hexagonais, que funcionam como dissipadores de energia da maré e protegerão a ciclovia, passeio e as vias.
Para o ambientalista Alder Flores, o ideal seria o método de engorda de praia, mas acredita que essa obra também seja eficiente e mais barata. “Existem obras de engenharia que de certa forma servem para impedir estes processos erosivos e estão sendo aplicadas em várias regiões costeiras do país. O método no meu entendimento pessoal, deve ser a engorda da praia. No entanto, este método é muito caro e precisa de vários estudos que devem ser feitos por especialistas para se ter a certeza da intervenção. De todo modo, algumas intervenções, a exemplo das que estão sendo aplicadas na orla de Maceió, servem para resolver o problema por um longo período tempo”, explicou.
A Seminfra informou que o método de engorda só seria possível se houvesse jazidas de áreas doadoras, ou seja, praia com areias de características iguais aquelas existentes no local da contenção, para que houvesse a transferência do material de uma área para outra, o que não existe em Maceió.
Segundo a pasta, engorda não é contenção e sim aumento de faixa de areia, que requer manutenção periódica e nem sempre é a solução mais viável. O órgão reforçou que essa é uma tecnologia holandesa avançada e sustentável, que não afeta o meio ambiente, de longa durabilidade, com vida útil de 200 anos.
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