
Durante muito tempo, a manhã do Sábado de Aleluia em várias cidades do interior era marcada por um barulho inconfundível: paus estalando em bonecos feitos de palha, roupas velhas e muita imaginação. Era a tradicional malhação do Judas, uma brincadeira de Páscoa carregada de simbolismo religioso e histórico.
Hoje, a prática resiste em poucas comunidades, principalmente nas cidades do interior, onde moradores mais antigos mantêm viva a memória dessa manifestação cultural.
A tradição, trazida ao Brasil pelos portugueses e espanhóis durante a colonização, acontecia entre a Sexta-Feira Santa e o Sábado de Aleluia. Em Portugal, por exemplo, o boneco é malhado na passagem para o Domingo de Páscoa. Embora esteja ligada à Semana Santa e reencene um episódio da Paixão de Cristo, a malhação de Judas não faz parte da liturgia oficial da Igreja Católica.
Segundo a Bíblia, Judas Iscariotes, um dos doze apóstolos de Jesus, traiu o mestre por trinta moedas de prata. Arrependido, tentou devolver o valor e, ao ser rejeitado, cometeu suicídio: “E ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar” (Mateus 27:5). Apesar da dramaticidade da traição, estudiosos e teólogos contemporâneos lembram que o arrependimento de Judas revela sua humanidade — e a possibilidade do perdão, tema central da mensagem cristã.
No entanto, o ato de “malhar Judas” sobrevive como forma de protesto popular e de expressão folclórica. Em muitas regiões, especialmente em comunidades mais tradicionais, o boneco de Judas não representa apenas o apóstolo traidor: pode ser um símbolo do mal, da hipocrisia, ou de alguém que decepcionou a comunidade. É comum o boneco carregar nomes ou rostos de políticos, criminosos ou figuras públicas que foram alvos de críticas.
E você se lembra da malhação de Judas no seu bairro antigamente? E atualmente, será que essa tradição ainda sobrevive na sua rua?
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