Após a ação da PM que deixou nove pessoas mortas o Baile da 17, festa de funk em Paraisópolis, em São Paulo, alguns dos nomes mais conhecidos da música no Brasil repercutiram o assunto.
Na madrugada de domingo (1º), nove pessoas morreram pisoteadas e outras 12 ficaram feridas após uma ação da Polícia Militar no evento, famoso entre artistas e outros profissionais do funk na capital.
“Se fosse há uns anos, poderia ter sido eu, minha mãe e meu irmão. Uma das coisas que a gente mais fazia quando eu estava começando era cantar em baile de favela”, lembrou Anitta.
A cantora, hoje com repertório mais pop, iniciou a carreira cantando funk em festas de rua no Rio. No vídeo publicado no Instagram, ela acrescentou:
“Se o funk incomoda tanto, se o baile incomoda tanto, vai na raiz do problema, que não é matar as pessoas. É dar educação de qualidade.”
Kondzilla, principal produtor de funk em São Paulo, lamentou as mortes e disse que um dos objetivos de seu trabalho é “mudar o olhar de preconceito” sobre os bailes.
“Precisamos unir todas as frentes para iniciarmos um novo momento da história do funk, da juventude e das favelas de São Paulo.”
Um dos principais representantes do movimento do funk 150 bpm no Rio, o DJ FP do Trem Bala também falou sobre o episódio. “Poderia ter sido eu, que trabalho com isso e frequento baile de favela. Poderia ter sido meus amigos, que também frequentam”, disse.
“Nove jovens inocentes mortos. Por quê? Porque estavam lá pra dançar, pra curtir? É proibido agora fazer isso? Que preconceito é esse? Que racismo é esse?”, questionou. E completou:
“Nem todo o mundo tem condições de ir pra boate cara. O baile de favela é nosso lazer. Se não fosse ele, eu não seria DJ.”
O caso ainda gerou comentários entre nomes do rap. “Não aguento mais ficar aqui. A morte desses jovens já acabou com a minha semana”, postou Marcelo D2.
“Doloroso demais ver as matérias sobre o ocorrido lá em Paraisópolis. Vidas tão jovens perdidas. E a humanidade que nos resta vai sendo arrancada pouco a pouco. Não tem coincidência aí, não tem acaso. Tem descaso e maldade, que atravessa gerações, sangrando a quebrada”, disse Rashid.
O que é o Baile da 17?
A festa, que na madrugada de domingo acontecia na rua Ernest Renan, em Paraisópolis, é também conhecida pela sigla Dz7. Ela existe desde o começo dos anos 2000.
Segundo moradores ouvidos pela BBC News Brasil, o número 17 é uma referência a um bar de drinks que existia na favela. O evento teria surgido como um pagode em frente a esse boteco, mas, nos intervalos, os frequentadores ouviam funk em carros estacionados na rua.
O baile cresceu e invadiu as madrugadas. Carros com aparelhos de som potentes tocam funk para até 30 mil pessoas espalhadas por vielas que, hoje, são mais comerciais do que residenciais.
A festa costuma ocorrer nas noites de sexta e sábado. Mas podem começar na noite de quinta-feira e se estender até domingo. No dia da confusão, cerca de 5 mil pessoas participavam do baile.
A Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo instaurou um inquérito para avaliar a conduta dos policiais no evento, incluindo os abusos registrados em vídeos, que circulam nas redes sociais.
Seis PMs foram afastados das ruas e já prestaram depoimento. A Policia Civil também investiga o caso.
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