Nos últimos dias, imagens que circulam nas redes sociais geraram indignação de diversos internautas. O vídeo mostra um deck construído em plena faixa de areia, pelo bar Hibiscus Beach Club, em Ipioca, na região Norte de Alagoas, que estaria impedindo a circulação de pessoas em parte da faixa de areia. O conteúdo foi amplamente divulgado, gerando uma intensa discussão. No registro, o denunciante alega que a obra estaria dificultando a passagem de banhistas e pescadores durante a maré alta. Apesar das críticas, tanto a empresa quanto os órgãos competentes alegam que a obra está dentro da legalidade.
“Olhem a estrutura que o Hibiscus construiu, praticamente tomando conta da praia. Quando a maré enche, o local fica intransitável. Isso os órgãos competentes não veem”, queixa-se o denunciante – que não teve o nome revelado – no registro.
Segundo o coordenador de gerenciamento costeiro do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), Ricardo César, o deck construído pelo restaurante não possui irregularidades. Ele explicou que o estabelecimento fez a obra de contenção depois que o mar invadiu em mais de 75 metros o terreno onde está localizado o restaurante.
“O equipamento do Hibiscus não está impedindo a circulação, e a área de praia está sendo recuperada com vegetação. Isso já foi aprovado pelo ICMBio [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade], pelo Ministério Público Federal (MPF) e por nós. Está tudo dentro da legalidade”, afirmou.
O coordenador do IMA explica ainda que, com o avanço do mar em Ipioca, os empreendimentos que ficam na costa sofreram com a erosão e o avanço das águas. Por sua vez, o empresário Ronaldo Scurachio, explicou que as coordenadas provam que a área em que o deck foi construído é de propriedade do Hibiscus. “A área pertence ao sítio onde o empreendimento está localizado. O local é georreferenciado desde 2011”, afirma.
De acordo com laudo técnico enviado à Gazeta, o ambiente onde se encontra o estabelecimento está sujeito a um processo erosivo. No caso do Hibiscus, aponta o IMA, se buscou uma solução para a redução deste processo. A parte de madeiramento visível é uma estrutura construída de forma artesanal, sem alvenaria e é um dos componentes de um projeto de redução do impacto da ação mecânica das ondas.
A parte que não se vê é um equipamento oculto de dispersão de energia mecânica de ondas, conhecido por Sandbag. O sandbag é uma técnica que permite o acúmulo de sedimentos de forma lenta e contínua.
O laudo também desmente a afirmação de que não existe faixa de praia na maré alta. “Nas áreas adjacentes, por ocasião das marés mais altas, torna- se inviável transitar, pois as ondas atingem diretamente os taludes no entorno. Mas devido a ação do dispersor oculto, já ocorre acúmulo de sedimentos na área defronte ao deck e nas marés mais altas. É o único ponto que permanece com areia, enquanto todo o entorno não permite trânsito”, pontua.
Para o biólogo Juliano Fritcher, a solução do empreendimento para lidar com o avanço do mar foi inteligente e que não causa impactos negativos para o meio ambiente. “O sistema de contenção adotado por eles é novo no Brasil, foi utilizado por pouquíssimas empresas. O acúmulo de areia ao longo dos anos (sandbag) é um ponto positivo”, explicou.
Foto mostra onde o espaço começava e, agora, após a construção do deck — Ailton cruz
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