O aumento do valor da passagem de ônibus em Maceió foi aprovado pelo Conselho Municipal de Transporte de Maceió na quarta-feira (28). A tarifa deve aumentar de R$ 2,50 para R$ 2,75 se for homologada pelo prefeito Rui Palmeira (PSDB).
Uma manifestação contra o aumento foi marcada na sexta-feira (30) durante uma reunião realizada na Praça Sinimbu, no Centro de Maceió.
“Vamos realizar um ato contra o aumento da passagem na próxima quinta-feira. A partir das 9 horas da manhã estaremos nos concentrando aqui mesmo na praça mas ainda não definimos o trajeto”, informou a estudante Luciana Araújo do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Alagoas (DCE/Ufal).
O grupo que realiza as manifestações tem o intuito de mobilizar os movimentos sociais e a sociedade diante do que consideram “um ataque à classe trabalhadora”.
“O poder público sempre aproveita essa época do ano para aumentar o preço da passagem. Época de férias e próximo do Carnaval, quando a população está distraída. O centro da nossa pressão é o prefeito Rui Palmeira. Vamos cobrar o que foi prometido durante a campanha em relação à licitação do transporte público e a melhoria da mobilidade urbana”, disse a estudante.
O professor Hitallo Viana questiona o fato de uma cidade, onde a maioria da população é pobre, ter uma das tarifas mais cara de ônibus do país.
“Um relatório da Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito [SMTT] mostrou que mais de sete mil pessoas pegam ônibus por dia em Maceió. O aumento de 25 centavos representa um lucro de dois milhões de reais para as empresas de transporte coletivo. O que se deve frisar é que a maioria dessas pessoas que pegam ônibus recebem em média um salário mínimo”.
Hitallo comentou ainda sobre a má qualidade do transporte público de Maceió.
“As pessoas passam horas esperando um coletivo nos pontos de ônibus porque são poucos veículos para a demanda. Além disso, Maceió é uma das poucas capitais onde não circulam ônibus de madrugada e nem possui terminais integrados o suficiente. E o pior de tudo é que além de contar com esse mau serviço, a população é quem paga pelo lucro dos empresários”.
Para o professor, a Associação dos Transportadores de Passageiros do Estado de Alagoas (Transpal) “tem uma influência muito grande na política”.
“Vamos seguir aquilo que aconteceu em 2013”, disse Hitallo, se referindo às grandes manifestações realizadas em todo o país.
Proposta de reajuste é protocolada
A assessoria de imprensa da Prefeitura de Maceió informou que a decisão de reajustar a passagem não é do prefeito Rui Palmeira, mas sim do Conselho Municipal de Transporte.
“A ata com a aprovação do reajuste da tarifa do ônibus já foi protocolada e o prefeito ainda irá dar seu parecer. Ainda não sabemos informar se ele vai sancionar o aumento ou negar a decisão do conselho”, informou a assessoria.
PESQUISA
Se levado em consideração a média salarial da população de Maceió em comparação com o valor da passagem de ônibus, a cidade é a capital com a tarifa mais cara do Brasil. A informação foi publicada em um estudo realizado pelos economistas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Samy Dana e Leonardo Lima.
O graduando em economia da Universidade Federal de Viçosa, Victor Cândido, também participou do estudo.
Os economistas levaram em consideração o tempo de 220 horas trabalhadas por mês, conforme determina a legislação brasileira. E o cálculo do salário médio das capitais foi feito de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2012 que indicam em salários-mínimos a renda do trabalhador.
Contudo, o valor do salário-mínimo adotado foi de R$ 788,00, já em vigor.
Em Maceió, são necessários 15,5 minutos de trabalho para pagar uma passagem de ônibus. O valor da passagem que serviu de base para o estudo realizado pelos economistas é de R$ 2,50. Na parte de baixo da tabela está Brasília, com 6,5 minutos de trabalho diário para pagar a passagem de ônibus.
A metodologia adotada, segundo os autores do estudo, é mais fiel à realidade por relacionar o preço da passagem de ônibus com a renda do trabalhador. Várias pesquisas desse tipo apenas listam o valor bruto da tarifa, sem levar em conta a renda média mensal das pessoas que usam o serviço.
Em segundo lugar como a capital brasileira com a passagem proporcionalmente mais cara do país está Manaus/AM. Lá o trabalhador precisa usar 14,9 minutos diários de trabalho para pagar a tarifa de transporte público.
A seguir vem Belo Horizonte/MG, Campo Grande/MS e Salvador/BA, onde os trabalhadores gastam 14,8 minutos diários de trabalho para pagar a passagem de ônibus.
Se o aumento para R$ 2,75 for homologado pelo prefeito Rui Palmeira, o custo diário com a passagem de ônibus será de R$ 5,50. No mês, levando em conta 30 dias do calendário comercial, o trabalhador passará a gastar R$ 165,00. Isso representa 20,9% do salário-mínimo de R$ 788,00.
Caso o trabalhador precise utilizar quatro passagens por dia – utilizar dois ônibus para chegar ao local de trabalho e retornar para sua residência – esse valor passa para R$ 11,00 diários; R$ 330,00 mensais e representa 41,8% do salário-mínimo.
De acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (PNAD) do IBGE, realizada em 2013, 42,3% da população de Maceió, com 15 anos ou mais de idade, possui renda de até um salário-mínimo.
Fonte: Tribuna Hoje
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