O conflito na Ucrânia já começa a afetar a economia mundial e em Alagoas não é diferente. O preço e estoque de diversos produtos pode ser afetado em razão das dificuldades logísticas causadas pela guerra. Um dos principais produtos afetados é a gasolina, o qual a Rússia é grande exportador. Com menos produto no mercado o preço tende a aumentar, além do receio de desabastecimento.
Jarlan Marques é dono de um posto de combustíveis em Maceió e conta que está temeroso com a disponibilidade do produto no mercado. Ele explica que sem poder importar os empresários vão recorrer à Petrobras, que não consegue atender toda a demanda nacional. Com isso, Marques conta que já comprou estoque a mais.
“Nos últimos dias a cotação dos derivados no exterior subiu mais de 10% devido ao conflito na Ucrânia. Provável que a defasagem ultrapasse um real por litro. Com isso as importações de derivados despencaram e as distribuidoras concentraram suas compras na Petrobras. É provável que tenhamos o cenário de novembro de 2021 de volta, quando houve escassez de produto visto que a Petrobras não consegue suprir 100% do mercado. Também esperamos forte correção nos preços da refinaria por parte da Petrobras. Aconselho que mantenham os estoques elevados para reduzir o impacto desse cenário”, afirma.
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de Alagoas (Sindicombustíveis-AL), James Thorp Neto, reconhece que existe possibilidade de aumento e diz que até o momento não há notícias de desabastecimento.
Outro setor que deve ser afetado pela guerra é o de padarias, tendo em vista que o preço do trigo, que a Ucrânia é grande produtor, tem aumentado. O presidente do Sindicato da Indústria de Panificação de Alagoas (Sindipan), Alfredo Dacal, diz que o preço deve aumentar, mas não haverá escassez. “A maioria do trigo do Brasil vem dos Estados Unidos, Canadá e, principalmente, da Argentina, Uruguai e Paraguai. Como é uma commodity agrícola esses preços vão aumentar. A Rússia é um grande produtor de vários adubos que são utilizados na agricultura brasileira. Esse aumento no nível de mercado mundial vai afetar não só o trigo, mas de outros cereais que são produzidos no Brasil”, estima.
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou, na última quarta-feira (2), que a expectativa do governo é a de que o preço dos alimentos sofra uma alta, em mais uma consequência da guerra na Ucrânia. “Isso tudo [essa alta dos alimentos] depende. Se a guerra acabar hoje ou amanhã, é um impacto [aumento de preço menor]. Se continuar por mais tempo, é outro”, disse a ministra.
Segundo ela, a estratégia do governo para evitar reajustes elevados será a diversificação de fornecedores de adubos e fertilizantes. “Tudo vai depender do tempo [de duração da guerra]. A gente tem que diminuir esses impactos, achar alternativas para ter o fornecimento. O preço [quem faz] é o mercado. O trigo subiu nas alturas porque a Ucrânia é um grande produtor. Hoje o mundo é globalizado. O preço [dos alimentos] a gente acha que terá uma alta. A soja subiu, caiu um pouco depois. O milho subiu e caiu depois. Isso é uma commodity. Temos de acompanhar e diminuir os impactos”, complementou.
O economista Armando Castellar, pesquisador associado da FGV/Ibre, disse ao Estadão Conteúdo que espera agora uma inflação na casa dos 6,2% ou 6,3%, com o PIB [Produto Interno Bruto] subindo entre 0,3% ou 0,4%, números piores que os projetados antes do início da guerra. Mas ele frisa que todos esses números ainda são preliminares, que vão depender da extensão da guerra, das sanções, dos efeitos que virão. O certo mesmo é que nada de positivo se pode esperar dessa situação.
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, explicou ao Correio Braziliense como o cidadão comum pode ser afetado. “A dona Maria e o seu João vão sentir o pãozinho mais caro nos próximos meses, porque o trigo está subindo direto e o petróleo, que é a base de quase tudo que é transportado no país, também”, alertou o economista. No entender dele, diante da nova escalada dos preços, o Banco Central seguirá elevando a taxa básica de juros (Selic), atualmente, em 10,75% ao ano, até 12,25%. “A tendência é de pressão na inflação, e o BC não vai conseguir cortar os juros neste ano. A Selic ficará alta por mais tempo”, afirmou.
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