O policial militar Johnerson Simões Marcelino foi condenado a mais de 53 anos de prisão em regime fechado pelas mortes dos irmãos Josivaldo e Josenildo Ferreira Aleixo, respectivamente de 16 e 18 anos, e pelo assassinato por erro de execução contra o pedreiro Reinaldo da Silva. Os crimes ocorreram em março de 2016, no Conjunto Village Campestre, parte alta de Maceió, durante uma abordagem policial. O resultado do julgamento foi divulgado às 22h53 dessa quinta-feira (25).
De acordo com o Ministério Público de Alagoas (MP/AL), o militar foi condenado a 24 anos e 6 meses pela morte do Josenildo e a 28 anos e sete meses pela morte do Josivaldo. Conforme a decisão, o militar, após cumprir os 53 anos de prisão, deve ficar mais 1 ano e 1 mês preso.
O juiz decretou, ainda, que a viúva do pedreiro seja indenizada em R$ 80 mil como forma de compensação pela morte do marido. Após a leitura da sentença, o militar saiu preso do Fórum de Maceió, localizado no Barro Duro.
O JULGAMENTO
O júri popular ocorreu durante toda a quinta-feira (25), na 9ª Vara Criminal da Capital. Foram ouvidos a mãe e o tio dos irmãos, as testemunhas que presenciaram o crime, e os policiais militares que acompanhavam Jonhnerson Simões na diligência policial daquela noite.
Além da morte dos irmãos e de Reinaldo, mais dois policiais foram baleados de raspão e uma terceira pessoa que passava pelo local foi atingida, mas sobreviveu.
A mãe de Josivaldo e Josenildo, Maria de Fátima Ferreira, afirmou em depoimento que seus filhos eram deficientes intelectuais e saíram de casa portando os cartões da Pestalozzi e um celular. No entanto, ela disse que os corpos dos meninos chegaram ao Instituto Médico Legal (IML) como indigentes e que os cartões nunca foram encontrados.
“Minha família foi destruída”, ela disse diante do Tribunal do Júri. Complementou, alegando que aquela tinha sido a primeira vez que havia deixado seus filhos saírem sozinhos.
“Antes disso, sempre andaram comigo. O pai dos meninos, que já estava doente, morreu depois do que aconteceu com eles”, relata a mãe. “Ele foram apenas com o cartão de deficiente e os celulares. Eu mesma coloquei eles no ônibus de manhã”, continua.
E questiona se os filhos realmente foram revistados: “Como que eles foram revistados, se colocaram eles como indigentes, eles com documentos. Os cartões nunca voltaram pra mim, nem os celulares”, conta.
A defesa do réu apontou contradições no depoimento da mãe dos meninos. Citou o analfabetismo da mulher ao questionar o relato dela, que dizia acompanhar as conversas e postagens dos meninos nas redes sociais.
Para a defesa, posts dos irmãos são os principais indicativos de envolvimento deles com o crime organizado, devido às menções e fotos. Mesmo assim, Maria de Fátima afirma que acompanhava todas as atividades dos meninos, que iam apenas para a escola, para os tratamentos e para casa, além de alguns eventos esportivos.
Os policiais presentes na abordagem negaram que houve intenção de matar ou que os meninos foram espancados. Afirmaram que a atitudes deles de tentar pegar a arma de um dos policiais motivou a suposta troca de tiros.
“Fui atingido e gritei que fui ferido. O comandante atirou no rapaz após verbalizar para que ele largasse a arma, o que ele não fez. Só assim pude puxar a minha arma de volta. Corri para me proteger e ouvi outros disparos, de tons diferentes. Fui até a viatura para pedir reforço para a segunda força tática que estava de ronda. Fomos socorridos na outra viatura”, afirma o motorista da viatura policial, Luiz Fernando Alves, que foi atingido acidentalmente pelo disparo.
Já Ronald Allysson, que também foi atingido, afirmou que se distraiu ouvindo os disparos e, ao se voltar novamente para o outro irmão, durante a abordagem, percebeu um clarão e foi atingido no dedo. Segundo ele, os dois militares teriam ido se abrigar atrás da viatura.
A promotoria, por sua vez, defendeu os depoimentos das testemunhas que estavam no local quando o fato ocorreu. Segundo essas testemunhas, os irmãos foram espancados e o réu teria voltado para o local do crime para implantar provas que incriminassem os irmãos Aleixo, o que foi negado pelos policiais.
A promotora do caso, Adilza Inácio de Freitas, foi enfática ao afirmar que as vítimas foram executadas em uma sentença de morte pelo próprio Estado, uma vez que o acusado integra um braço da Segurança Pública. Ela defendeu a condenação do policial por homicídio triplamente qualificado (duas vezes) e homicídio culposo (no caso do pedreiro).
Johnerson também foi denunciado pela promotoria por fraude processual, ao implantar armas de fogo no local como se tivessem sido portadas pelas vítimas.
A promotora reforçou que, na execução errada, Johnerson Simões Marcelino também matou o pedreiro, “considerado um trabalhador honesto, pai de família e que voltava para casa quando tudo aconteceu. E completa que “a sociedade precisa dizer que tipo de polícia ela quer: a que protege ou a que mata. Se livrá-lo, os jurados estarão legitimando o Estado de que este é autorizado a matar”.
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