A greve dos trabalhadores do Hospital Veredas, prevista para começar nesta sexta-feira (16), está envolta em narrativas que tentam tirar a responsabilidade de seus gestores. Isso porque a direção da unidade tem divulgado que o atraso de três meses de salários mais o 13° de 2022 teria relação com o atraso no repasse de recursos por parte da Secretaria Estadual da Saúde (Sesau). A versão, porém, foi contestada pelo governo do Estado, que apresentou planilhas que mostram o repasse ao Veredas de R$ 66,05 milhões por serviços prestados.
Os dados revelam que a quantia corresponde a repasses ou indenizações entre os anos de 2022 e 2023 (de agosto a junho). Só de pagamento relativos ao ano passado foram pagos cerca de R$ 60 milhões. A Sesau informou também que o Hospital Veredas alega existir ainda uma dívida remanescente de 2022.
O débito corresponderia a R$ 17 milhões, que, segundo a cúpula da saúde estadual, não são reconhecidos na sua totalidade, mas estão sendo negociados e com perspectiva concreta de parcelamento. Num dos demonstrativos, a secretaria apresenta pagamentos relativos a serviços referentes a atendimentos Pro-Mater, Mais Saúde e Oxigenoterapia.
Uma das parcelas, referente a dívidas de janeiro a maio (2021), repassada em fevereiro, é de R$ 2.068.333,22. No mês seguinte, em março, outro repasse no mesmo valor foi feito, dessa vez referente aos meses de janeiro a outubro de 2021. Ou seja, num intervalo de dois meses, o Veredas recebeu um montante de R$ 4.136.666.44, e, de fevereiro até este mês de junho, o demonstrativo indica que o valor total foi de R$ 6.052.887,81.
CONFIRMAÇÃO
A existência da dívida foi confirmada pela procuradora-geral do Estado, Samya Suruagy, entretanto ela ressaltou que o débito se refere ao governo anterior e não à gestão do governador Paulo Dantas. “Quando estive em reunião com o secretário Gustavo e com o governador Paulo Dantas, fui informada de que neste governo não existem dívidas, mas sim do governo anterior. Então houve uma conversa e um acerto e que estavam sendo pago de forma parcelada. Do atual governo o débito que existe é o do mês, mas não de meses anteriores”, detalhou Samya.
A partir dessa realidade, a principal suspeita é de que o caos administrativo vivido, na atualidade, decorre de problemas acumulados em gestões anteriores. E, na avaliação da procuradora, da falta de transparência de como os atuais gestores encontraram as finanças do hospital.
Conforme explicou Samya, a atual diretora financeira do Veredas, Pauline Pereira, chegou à administração do hospital por causa da articulação de seu grupo político de oposição. E isso só foi possível porque esse grupo já domina o comando da unidade há alguns anos. Ainda assim, Samya disse acreditar que o gesto mais natural deveria ter sido uma prestação de contas para diferenciar a situação anterior da atual.
“Quando uma pessoa assume um cargo público e, principalmente, o de uma diretoria financeira, ela tem que expor para a população a condição em que pegou o cargo. Depois de estar lá por dois ou três meses, ela [Pauline] dizer que está devendo não faz sentido. E todos sabem que o Vereadas é gerenciado pelo grupo político dela. Então, se há algum problema é com esse grupo que administrou o hospital, e não com o Estado de Alagoas”, completou Samya.
TRABALHADORES
Depois de várias tentativas de acordo, negociações frustradas e o descumprimento de termos ajustados no Ministério Público do Trabalho, os trabalhadores do Hospital Vereadas deliberaram pela greve. Eles cobram da direção da unidade o pagamento dos salários de março, abril e maio, além do 13°, que deveria estar sendo pago em parcelas, o que também não aconteceu.
Segundo explicou o presidente do Sateal, Mário Jorge, foram várias mobilizações e encontros com a direção, mas que nunca representaram avanços porque a alegação é de que a origem dos atrasos está na falta de repasses da Secretaria Estadual de Saúde.
“Os trabalhados do Hospital Veredas optaram pelo movimento de greve até que a instituição quite o que deve. Estão incluídos aí três meses de salários: março, abril e maio. E, ainda, o pagamento do 13°. A direção assumiu no MPT o compromisso de pagar em parcelas e não cumpriu. A indignação dos trabalhadores é grande”, ressaltou Mário Jorge.
PERCENTUAL
O líder do movimento grevista confirmou que a entidade vai garantir o contingente mínimo de 30% dos trabalhadores em atividades essenciais, mas ocorrerá um revezamento a fim de não sobrecarregar mais quem já está vivendo em situação de penúria. Mário Jorge informou que a entidade recebeu, no final da tarde de terça-feira, a informação de que a direção iniciou o pagamento do mês de março e que deveria encerrar os repasses até hoje. Quanto ao pagamento dos atrasados, o sindicalista informou que a direção continua reafirmando que a responsabilidade é total do Estado.
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