A diminuição do movimento comercial e de serviços pela queda de renda da população mais pobre, somada às medidas de restrições de funcionamento, penalizará ainda mais as atividades do varejo, sejam as feiras do interior, galerias, comércio de bairros, shoppings centers e toda a rede de prestação de serviços.
É o que prevê o economista e professor doutor da Universidade Federal de Alagoas, Cícero Péricles. Ele acredita que, com a aceleração dos números da pandemia, o corte das medidas de estímulo à economia e a tomada de decisão de medidas restritivas, o primeiro trimestre e, provavelmente, todo o semestre, será muito difícil para a maioria dos empreendimentos.
O especialista avalia que a retração do consumo influencia, indiretamente, na rotina de outros setores, como a indústria de bens populares e a agricultura produtora de alimentos. Na atual conjuntura, ele diz que isso significa menor volume de receita e mais desemprego. Péricles analisa que os setores do comércio e serviços, que representam 72% do PIB estadual e têm 85% das empresas formalizadas, são os grandes empregadores e pagadores de impostos municipais e estaduais.
“O decreto atinge, essencialmente, atividades nestes dois blocos da economia estadual, que detêm 140 empreendimentos. As dificuldades maiores vêm porque 90% das empresas destes dois segmentos são micro e pequenas empresas, as MPE’s, ou, mais grave, microempreendedores individuais, os MEI’s. Como são empresas de base familiar, que atendem o público diretamente, num circuito relativamente próximo, sofrem o impacto dos limites de funcionamento noturno ou mesmo fechamento nos finais de semana”, explicou.
Segundo ele, essas empresas pequenas estão descapitalizadas, sem instrumentos de apoio e com vendas menores pela perda do Auxílio Emergencial desde o mês de janeiro. Quanto aos empresários, há dificuldades adicionais, segundo analisa o economista. O cenário nacional é difícil, num longo período de problemas econômicos, com o país atravessando dois anos de recessão (2015-2016) e quatro anos de crescimento baixo (2017-2019) e o ano passado que foi de crise e de crescimento negativo de -4,1%.
“Centenas de empresas menos capitalizadas, com dificuldades de caixa, fecharam as portas, como lembra a Confederação Nacional do Comércio. Outras sobrevivem, mas sem poder realizar investimentos ou melhorias em seus negócios pela falta de capital e pelas incertezas no cenário econômico. Uma parte menor, as empresas que se mantiveram abertas, dos chamados segmentos essenciais, como supermercados, farmácias, lojas de material de construção, conseguiram atravessar esse ano de pandemia apresentando resultados positivos”, destacou.
Como saída, Péricles menciona que as agendas apresentadas pelo setor produtivo são passíveis de negociações e aprovação de medidas capazes de ajudar esse universo amplo de micro e pequenas empresas e de microempreendedores.
“Como grande parte dos itens diz respeito a questões tributárias e fiscais, uma parte da agenda é negociada com o Estado e outra parte com as prefeituras. O Estado pode aprovar medidas emergenciais, transitórias, em função da calamidade pública sanitária, e as Prefeituras, principalmente as maiores, podem negociar medidas que atendam parte das reivindicações dessas entidades. As experiências de outros estados nordestinos apontam para essa possibilidade”, sugere.
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