As manchas de óleo encontradas nas praias do Nordeste se constituem em um enorme perigo para o ecossistema marinho e os negócios no Litoral Norte dos Estados de Alagoas e Pernambuco, já que, em muitas localidades, as praias são as únicas opções de trabalho e geração de renda da população.
Mais de 3 toneladas de petróleo cru já foram retiradas de praias em AL e PE e estão sendo levadas para análise, cujo resultado deve confirmar a origem desses compostos, facilitando a investigação que pode apontar quem são os responsáveis pelo vazamento do material em alto-mar.
A suspeita é que navios petroleiros que passam pela costa brasileira esvaziam e lavam seus tanques, despejando os restos de óleo no oceano, que, pela ação das correntes marinhas, chegam às praias do Nordeste.
Segundo Bruno Stefanis, do Instituto Biota, as manchas encontradas recentemente estão sendo recolhidas e enviadas para análise. “Essas manchas que apareceram agora é petróleo cru, são similares às amostras encontradas de 2019. Inclusive o material utilizado para investigação foi retirado da boca de uma tartaruga e enviado para o laboratório. Hoje o Instituto Biota monitora 9 municípios do litoral de Alagoas, de Feliz Deserto até Maragogi”.
Há fragmentos de óleo em todas as áreas dessa faixa de praia. Tudo isso é recolhido e repassado para as autoridades para que as responsabilidades sejam apontadas.
O Biota adverte que o material encontrado misturado com areia nas praias é toxico, e orienta que os fragmentos de óleo não devem ser manuseados, já que isso pode ser prejudicial à saúde das pessoas e animais que entram em contato. Os exames das amostras vão mostrar o nível de toxidade e daí se terá uma noção da concentração do composto químico.
Como no instituto não são feitas análises, já que não possui a estrutura adequada e com laboratório, parcerias são necessárias para a realização dos exames das amostras, principalmente com as universidades federais, que prestam um grande serviço à pesquisa realizada no litoral brasileiro.
Sobre a origem das manchas, Bruno afirma não haver informação oficial, mas, como o óleo tem traços de biocompatibilidade, é possível saber onde esse material foi produzido.
Informações dão conta de que a conclusão que as primeiras amostras revelam é que o petróleo foi produzido por refinarias localizadas na região do Golfo do México, na América do Norte.
“Ao Instituto Biota cabe o monitoramento das praias, cujas manchas apareceram. Já há relatos de manchas vindas do Ceará até a Bahia. Estamos chamando a atenção para esse problema, cobrando ações efetivas. De nossa parte, temos realizado mutirões de limpeza e biorremediação. Nós achamos as manchas de óleo nas praias, identificamos o local e convocamos as autoridades”, afirmou o representante do Instituto.
Cidades como Maragogi (AL), São José da Coroa Grande (PE), Japaratinga (AL) e Tamandaré (PE), onde novas manchas de óleo foram encontradas, dependem exclusivamente da arrecadação gerada pelos negócios do turismo.
PRESERVAÇÃO
A chamada área da Costa dos Corais, na faixa das praias entre Alagoas e Pernambuco, se constitui numa das regiões de maior diversidade marinha do planeta.
A APA Costa dos Corais é a maior unidade de conservação federal marinha do Brasil e engloba parte do território dos Estados de Alagoas e de Pernambuco. Ela pretende equilibrar usos direto (pesca, por exemplo) e indireto (turismo, pesquisa, monitoramento e afins) dos recursos.
O turismo na região se impõe como uma fundamental fonte de renda para as comunidades locais. Pessoas de todo o Brasil e, até mesmo, de outros lugares do mundo, visitam as praias que fazem parte da APA, em especial as que compreendem a chamada “Rota Ecológica”, como a de São Miguel dos Milagres e de Maragogi. Apesar da importância do turismo, existem impactos importantes quando não considerado o cuidado necessário para conservação da região.
É muito comum a exibição de vídeos nas redes sociais mostrando imagens de festas nas piscinas naturais na região de Passo de Camaragibe, dentro das APAs, e sem respeitar o disposto no Plano de Manejo, o principal documento de gestão da unidade, de livre acesso, encontrando-se disponível no site do ICMBio, podendo ser consultado.
Esses impactos produzidos pela realização de eventos se juntam com as manchas de óleo que voltaram a aparecer na região. As ações de limpeza e retirada do óleo misturado com areia tem sido feito por iniciativa do ICMbio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
Ações conjuntas AL/PE
Para Renata Carvalho, do ICMbio, que está atuando diretamente nas operações de limpeza e retirada do óleo das praias na região, há fragmentos de óleo em todos os municípios da APA Costa dos Corais, sendo que, em alguns mais, outros menos, e não foram registradas manchas em todas as praias da região.
Todos os municípios estão colaborando, com suas prefeituras realizando a limpeza dos locais e estocando os resíduos em áreas apropriadas para que seja feita a destinação correta.
“O ICMbio está apoiando conforme a necessidade. Metade da equipe estava em Carro Quebrado, Barra de Santo Antônio, e outra metade na Praia de Mamucabinhas, em Barreiros (PE), uma praia mais deserta e menos frequentada. Outros parceiros importantes na operação são a Marinha do Brasil e a Superintendência do Ibama de Alagoas”, cita Renata.
Em Alagoas e Pernambuco, 12 municípios foram atingidos por manchas de óleo que chagaram às praias.
Em 2019, cerca de 130 municípios litorâneos registraram a aparição das manchas nas praias, totalizando uma área de 700 km de extensão por toda a costa. Cerca de 12 instituições estão mobilizadas em Alagoas e Pernambuco objetivando alcançar uma estratégia comum para ações de limpeza e acondicionamento do material recolhido e envio de amostras para exames laboratoriais.
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