Ser mãe é um sentimento singular. Proteger, acolher e cuidar é o que a natureza ensina. Assim é a vida da diarista Rosemary Bernardo de Oliveira, de 44 anos. Dia após dia, ela luta contra o preconceito e a intolerância que sofre seu filho caçula, o alagoano Isaac Victor, um jovem transgênero de 15 anos.
Neste dia das mães, 13 de maio, o G1 conta a história de uma mãe solteira que se engajou nos movimentos em luta pelos direitos dos LGBT para ultrapassar as barreiras do preconceito familiar e da sociedade, além de garantir que seu filho seja visto não como “mais um”, mas como o ser humano que ele é e deseja ser.
Além de Isaac, Rosemary é mãe de mais dois filhos. Hoje, ela faz parte e conta com o apoio do grupo “Mães pela Diversidade”, que está presente em 26 estados do Brasil e é recém-chegado a Alagoas. O grupo esclarece dúvidas sobre a identidade de gênero e lutar pelos direitos LGBT. Ela também participa de outros grupos voltados ao movimento e recebe auxílio do Conselho Tutelar.
A vontade de se tornar uma militante e lutar pelos direitos dos LGBT foi provocada depois que Isaac decidiu contar a respeito de sua identidade de gênero, após ter sido vítima de diversos tipos de preconceitos na escola.
“Um dia, estávamos nos arrumando para ir ao cursinho de inglês e o Isaac parou na frente do espelho e disse ‘mainha, a senhora já se viu alguma vez como se não estivesse dentro do seu corpo, como seu corpo não fosse seu?’. Pra mim isso foi um impacto porque, até então, ele nunca tinha tocado no assunto”, contou.
Sem fazer ideia do que seria uma pessoa transgênera, ela buscou explicações sobre a identidade de gênero através de um irmão que cursa psicologia e da internet.
Em meio ao desabafo de Isaac, sua mãe e seus irmãos foram aceitando sua identidade. Porém, o que Rosemary mais temia era como que o pai do jovem, a família e a sociedade agiriam. De acordo com dados do Grupo Gay da Bahia, o estado de Alagoas tem o segundo maior número de mortes de LGBT do país.
“Quando eu comecei a saber o que era transgênero, eu comecei a descobrir que a sociedade matava, reprimia e caçava os nossos filhos como bichos e eu sempre tentei defender”.
Para o Isaac, o apoio da mãe sempre foi fundamental para ser quem ele é hoje. Juntos, eles se tornam exemplo e tentam levar o conhecimento do assunto às outras famílias.
“Ter uma mãe militante é maravilhoso, não só por sua luta, mas pela diversidade inteira do meio LGBT porque quanto mais conhecimento se tem, evita um certo tipo de constrangimento. Se já é difícil para nós nos entendermos, imagine uma pessoa mais velha tentando entender isso e indo buscar isso sozinha. É muito gratificante”, falou Isaac.
Preconceitos
Os preconceitos formam uma experiência de vida para eles. Para Rosemary, vivenciar cada momento difícil é como sentir as dores que Isaac sente cada vez que é vítima da intolerância da sociedade.
Ao G1, ela relatou que o jovem sofria diversos tipos de preconceitos desde criança por não gostar de brincar com meninas e preferir brincar de jogar bola, rodar pião brincar de carrinho.
Nas escolas, estudar sempre foi uma barreira a ser vencida por Isaac, já que as pessoas demonstravam ter um olhar indiferente e não aceitavam seu nome social.
No período de ensino fundamental, Isaac passou diversos intervalos isolado das outras crianças, trancado dentro de uma sala, à espera do sinal que informava o fim da recreação. Para ele, esse era o sinal da liberdade, quando podia sair da sala e brincar, enquanto todos as todas outras crianças já estavam dentro da classe.
“Ele me contou que não gostavam dele porque ele se comportava como menino, sendo referido por uma funcionária da escola como ‘menina-homem’ e, por isso, era um mau exemplo”, contou Rosemary.
Não diferente do pensamento da funcionária da escola, o pai do jovem, segundo Rosemary, agiu de uma maneira inesperada para todos da família.
“Nós fomos contar ao pai [dele] e ele foi muito duro, muito ríspido, chamando o meu filho de aberração, de monstro e que ele não deveria existir. A vontade que ele tinha era de matar. Eu enfrentei, briguei e abracei meu filho. Se antes eu não o deixava só, depois disso tudo eu não o deixei mesmo”, desabafou.
Fonte: G1
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