Além de data religiosa que celebra o nascimento de Jesus Cristo na liturgia cristã, o Natal também se tornou sinônimo de dar e receber presentes inspirado na visita dos Três Reis Magos que ofereceram ouro, mirra e incenso na chegada do Messias. Com o passar dos séculos, o comércio tratou de capitalizar a festa ao associar à época ao velhinho barbudo e generoso mais aguardado pelas crianças de todo o mundo.
Mas não é só a garotada que gosta de ganhar presentes. Afinal, além estimular a compaixão, a fraternidade e a caridade, o espírito natalino chega durante a despedida de um ano e no despertar de um novo. Por isso, a natividade também simboliza a renovação da esperança que dias melhores virão.
E tudo isso pode vir tanto na segurança de finalmente morar numa casa própria; no conforto proporcionado pelo primeiro carro; no aumento de salário; na abertura de um novo negócio ou na recuperação de um parente enfermo.
Inspirada pelo período, a Superintendência de Limpeza Urbana de Maceió (Slum) coletou depoimentos de três garis que responderam à pergunta: qual o presente Natal você mais gostaria de receber em 2014?
Mesmo que Papai Noel não consiga atender aos pedidos feitos pelos agentes de limpeza, os relatos sobre seus anseios, desejos e necessidades tanto provocam a reflexão e quanto estimulam o exercício da fé.
Como o caso do roçador Francisco de Assis dos Santos, 50. Com o nome do santo lembrado pela mensagem “é dando que se recebe”, o agente de limpeza atua há dez anos na limpeza urbana. Ele mora em Rio Largo com a mulher e mais três filhos. Todos os dias, Francisco vem a Maceió para vestir o equipamento de segurança e operar a roçadeira na equipe de capinação que roda as ruas da cidade.
O melhor – e talvez único – presente de Natal que gostaria de receber não poderia, de fato, ser outro: a cura para o problema de saúde de sua esposa.
Diagnosticada com câncer de útero, Maria do Socorro Ramos da Silva, a esposa, iniciou recentemente o tratamento para vencer doença. “Eu gostaria muito que minha mulher se recuperasse. É um problema grave. A gente sente muito, mas tenho fé em Deus”, revela o gari.
Já para José Moreira Lima, 51, a saúde dele e da família não é o problema. Tanto, que dois dos seus três filhos também trabalham como agentes de limpeza. Força e disposição não faltam. O que José Moreira quer mesmo é ter uma casa própria bem longe do bairro em que mora atualmente.
O problema por lá, segundo relata, é o aumento da violência. “Hoje eu tenho a minha casinha, mas é num lugar complicado para um pai de família, um homem honesto e trabalhador viver”, lamenta. O negócio é tão sério que ele prefere não revelar o nome do local onde reside.
Há cinco anos na Limpeza Urbana, o agente atua desde o início, curiosamente, num dos endereços residenciais mais nobres da capital: a Av. Silvio Carlos Vianna, na enseada da Ponta Verde.
Ali, ao coletar a sujeira descartada no passeio e no calçadão entre o mar paradisíaco e os condomínios de alto padrão, ele lembra que precisa sair de casa às 04h da manhã para pegar no batente. “Ainda está escuro e eu saio com medo. Eu não posso nem ter uma bicicleta. Já roubaram três bicicletas minhas mesmo com dois cadeados no portão. Por isso, gostaria de ganhar de Natal uma casa num lugar em que eu pudesse viver tranquilo”, aponta.
Tranquilidade é também – e muito claramente – o desejo do gari Fabiano dos Santos Batista, 23, para a chegada do novo ano. O jovem foi claro, direto e surpreendente em seu pedido para Papai Noel: “O que eu quero é paz e mais nada!”, disse, enfático.
Prestes a completar um ano em seu primeiro emprego de carteira assinada, o agente mora na Ponta Grossa e integra uma das equipes de capinação que atuam em diversos pontos da cidade toda a semana.
O seu pedido diz muito sobre os tempos em que vivemos. Quando um profissional da limpeza urbana descarta desejos de ordem pessoal em função de um bem maior – algo com que, na prática, ele lida diariamente – é sinal de que, embora teime em se inclinar vez ou outra parauma direção duvidosa, este nosso mundo velho de guerra ainda tem jeito. Um Feliz Natal!
Fonte: Asessoria \ AL 24 Horas
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