A fiscalização federal mantém fábricas de fogos de artifícios do estado lacradas. Depois de vários acidentes, o Exército, o Ministério Público do Trabalho (MPT) e outros órgãos de fiscalização fecharam as fabriquetas. Os fogueteiros, sem alternativa, migram para Pernambucano e continuam trabalhando clandestinamente. No mês passado, dois alagoanos de Ibateguara morreram no interior de Pernambuco quando uma fábrica clandestina explodiu. No acidente, mais três pessoas ficaram feridas.
Já os fabricantes de traque de Murici conseguiram R$ 5 milhões do governo federal para a construção do primeiro núcleo industrial de produção de estalo de salão. Os fabricantes se organizaram em Associação, saíram da clandestinidade e conseguiram autorização para fabricar. O município é hoje o maior produtor de traque do Nordeste.
Com a construção do núcleo, os fogueteiros prometem aumentar a produção de craque em Murici e gerar mais de mil empregos diretos.
Comércio
O comércio de fogos de artifícios antecipou as vendas no interior e na capital do estado. Boa parte dos fogos comercializados em Alagoas vem da China, Minas Gerais e de Caruaru (PE). Além de revender produtos industrializados, os comerciantes do Agreste de Pernambuco comercializam fogos artesanais de fábricas clandestinas de vários estados nordestinos.
Depois de vários acidentes com vítimas, as fabriquetas de Alagoas foram lacradas por determinação das fiscalizações federal e estadual. Alguns fogueteiros que trabalhavam clandestinamente em São José da Laje, Ibateguara, União dos Palmares e outras regiões da Zona da Mata de Alagoas migraram para o Agreste pernambucano, onde há produção clandestina que dribla a fiscalização federal.
Os serviços de inteligências do Exército, Ministério do Trabalho, Polícias Rodoviária Federal, Civil, Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil mantêm os municípios alagoanos monitorados, revelou o subcomandante do Corpo de Bombeiros, coronel Paulo Marques.
A fiscalização e o controle do comércio de produtos como fogos e estalo de salão são feitos pelo Corpo de Bombeiros. “Por enquanto, não existe nenhuma anormalidade. Em Alagoas não tem produção de fogos de artifício. O Estado obedece determinação do Exército, que controla a manipulação de produtos explosivos e mantém rígida a fiscalização. Os bombeiros normatizam e fiscalizam o comércio desses artigos juninos”, garante o subcomandante, coronel Paulo Marques.
Coronel Paulo Marques fala sobre fabricação de fogos em Alagoas
Artefatos vendidos no estado são importados de outros estados e até da China
Desde abril de 2015, quando ocorreu um último acidente numa das fábricas clandestinas de Ibateguara, em que morreu Diógenes Jorge da Silva, de 32 anos, e um adolescente de 16 anos teve mais de 50% do corpo queimado, o Exército proibiu a utilização de produtos explosivos para a fabricação de fogos de artifícios. A medida também tem o objetivo de evitar que assaltantes de bancos ataquem as fabriquetas a fim de conseguir pólvora e outros explosivos para atividades criminosas.
No dia 23 do mês passado, uma explosão numa das fábricas de fogos no município de Cupira, no Agreste de Pernambuco, matou dois alagoanos de Ibateguara: Cícero Luiz da Silva, de 47 anos, e Rosiberto Pedro da Silva, de 25 anos, mais três pessoas ficaram feridas. Na mesma cidade, em 2015, ouve outro acidente semelhante.
Na última quarta-feira, a reportagem da Gazeta esteve em Ibateguara e conversou com uma das proprietárias da fábrica que explodiu em 2015. Ela pediu para não ter o nome publicado, mas disse que no dia do acidente também trabalhava no local. Ela e o marido eram donos do negócio, hoje mudaram de ramo porque, segundo eles, o Exército proibiu a manipulação de pólvora para fabricação de fogos de artifício.
Os operários da fábrica trabalhavam sem equipamento de proteção. Numa conversa por telefone com a reportagem, o dono da fabriqueta admitiu que o acidente ocorreu por imprudência. “Desde que o Exército proibiu a fabricação de fogos aqui em Ibateguara, deixamos de trabalhar. Agora a gente compra fogos de Caruaru e revende”, disse o fogueteiro.
São José da Laje é outra cidade que tinha mais de 20 fabriquetas clandestina, hoje não produz mais nada. Um dos fogueteiros clandestino, Marcelino Gomes da Silva Santos, que também nos atendeu por telefone, garantiu que “não tem mais fabricação de fogos de artifício na região porque não tem pólvora para trabalhar. Por outro lado, o Exército proibiu a fabricação desde 2015”, lamentou.
Alagoas é hoje o maior produtor de traques do Nordeste
FOTO: DÁRCIO MONTEIRO
Os fogueteiros de São José da Laje também migraram. A maioria para Pernambuco. Os que ficaram na cidade mudaram de ramo: se tornaram comerciantes, alguns trabalham na construção civil e/ou voltaram para a agricultura. Um dos grandes acidentes registrados na cidade ocorreram em abril de 2011. Uma indústrias clandestinas explodiu quando uma mulher pilava pólvora sem técnica e sem equipamento de proteção. Cinco pessoas ficaram feridas, a mulher que provocou o acidente teve os braços queimados. A destruição no local foi total. Nessa época, funcionavam mais de 20 fábricas clandestinas de fogos, algumas delas em residências.
As fabriquetas fecharam. Hoje, no centro da cidade, funciona um pequeno comércio de fogos nos períodos juninos. Este ano, as barraquinhas foram montadas mais cedo, os comerciantes estão empolgados por causa da Copa do Mundo, das festas juninas e da política. Os estabelecimentos funcionam na antiga linha de trem e próximo do centro comercial da cidade. Os moradores da região não gostaram e denunciaram o comércio antecipado ao Corpo de Bombeiros, que já fez a vistoria, orientou os comerciantes para manter as normas de segurança e deu sinal verde para os revendedores.
Os fogos comercializados por Flávio da Silva Bezerra, por exemplo, são de fábrica na China e no interior de Pernambuco. As “bombas” de fabricação artesanal parecem dinamite e se detonadas de forma imprudente podem causar estragos à integridade física, admite o comerciante, que diz vender o artefato apenas para pessoas maiores de idade.
Fonte: Gazeta Web
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