Há quase dois anos e meio à frente da Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas (Sesau/AL), Alexandre Ayres vê mais um escândalo explodir ao seu redor, o terceiro em plena pandemia. Desta vez, o principal envolvido é seu braço direito, o secretário-executivo da pasta, Marcos Ramalho, que é acusado de receber remuneração média de R$ 72 mil nos primeiros seis meses deste ano, sem que, efetivamente, tenha trabalhado, haja vista a impossibilidade de acumular tantas funções.
As denúncias na Gestão Ayres explodiram ainda no começo da pandemia, quando, em 22 de abril do ano passado, o deputado estadual Davi Maia (DEM) revelou casos de nepotismo no Laboratório Central de Alagoas (Lacen). Maia listou os cargos ocupados por ligações políticas e familiares no referido laboratório. Ele afirmou que o filho da chefe setorial da Soroteca trabalha no setor de análises, o esposo dela é chefe da TI [Tecnologia da Informação], a filha é advogada do laboratório e a nora, chefe da Imunologia.
Ele continuou citando que o filho da chefe do RH trabalha no setor de Bromatologia, a prima dela é chefe do setor de Saúde do Trabalhador, a nora trabalha no Administrativo e o sobrinho, no Almoxarifado. A chefe do setor de qualidade é esposa de um dos chefes e a nora dela é da Biologia Molecular. “Até quem fornece as quentinhas é mãe de uma das funcionárias, e o filho do chefe do financeiro da secretaria também trabalha no Lacen”, afirmou.
Depois, em 27 de abril, iniciava-se outro fato que terminaria em escândalo na Gestão Ayres: a compra dos respiradores que nunca chegaram. Foram adquiridos 50 equipamentos por meio de compra coletiva realizada pelo Consórcio Nordeste. As irregularidades na compra resultaram na operação Ragnarok, deflagrada pela Polícia Civil (PC) da Bahia.
“No decorrer da investigação, a Polícia Civil conseguiu identificar que o contrato que essa empresa alegava ter com a empresa chinesa, na verdade, era um contrato falsificado. Inclusive, através de informações da embaixada da China, se constatou que a empresa que eles alegaram como fabricante dos respiradores na China é uma empresa de construção civil e que não trata, em absoluto, desse tipo de equipamento”, detalhou, à época, Maurício Barbosa, secretário de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA).
Secretários Marcos Ramalho e Alexandre Ayres – Foto: Cortesia à Gazetaweb
Já na última quarta-feira (18), abateu-se sobre a Sesau o escândalo mais recente, desta vez, ainda mais próximo de Ayres. Com documentos do Portal da Transparência, o deputado Davi Maia denunciou que o braço direito de Alexandre Ayres, o secretário-executivo de Saúde de Alagoas, Marcos Ramalho, recebe supersalário.
Os documentos oficiais mostram que, nos primeiros seis meses deste ano, Ramalho embolsou R$ 343.975 em remuneração por plantões em unidades de saúde do Estado. O montante recebido pelo braço direito de Ayres equivale a uma média mensal de R$ 57.329, que, quando somado ao salário de R$ 15.272, dá um supersalário de R$ 72.601,61.
Na denúncia, o deputado aponta que Ramalho estaria desempenhando diversas funções. Além de secretário-executivo, ele atuaria como plantonista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e como diretor do Hospital Metropolitano, além de ser plantonista no mesmo hospital. O deputado classificou a situação como “inacreditável e humanamente impossível”.
O deputado informou que, em abril passado, o braço direito de Ayres deu 42 plantões no Samu e no Hospital Metropolitano. No mês anterior, foram 14 plantões nos dois locais, ao mesmo tempo. Outro fato levantado por Maia é que, em alguns dias que Ramalho aparece como plantonista no Samu, ele postou nas redes sociais sua presença em atividades políticas. Foi assim em 19 de janeiro, quando ele estava na escala de plantão do órgão à noite, mas, de fato, estava no aeroporto com outras autoridades, acompanhando a chegada de vacinas em Alagoas.
OUTRO LADO
A Gazetaweb questionou à Sesau sobre as denúncias. Por meio de nota, a pasta informou que todos os profissionais que atuam na linha de frente da Covid-19 estão recebendo salários dentro da média do mercado desde o início da pandemia. Além disso, afirma que determinou, ao departamento de Recursos Humanos, uma revisão de todos os pagamentos realizados aos mais de 4 mil profissionais que atuam na linha de frente do enfrentamento da Covid-19.
Sobre a compra de respiradores, informou que já foi reembolsada em uma parte e que entrou na Justiça para reaver a outra parte paga.
Por outro lado, a respeito das denúncias de nepotismo no Lacen, a secretaria não se pronunciou.
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