Ave foi escolhida como símbolo do Estado no ano do bicentenário e garante empenho na preservação do animal após processo de reinserção ao meio ambiente
Já são quase 30 anos sem registros dessa ave na mata atlântica, mas os três últimos exemplares encontrados no município de Roteiro foram criados e reproduzidos em cativeiro e hoje já são cerca de 230. Por isso, chegou a hora de o Mutum de Alagoas voltar para casa e o Governo do Estado vai proporcionar esse retorno e a reintrodução desse animal na natureza. Além disso, em comemoração ao bicentenário, o governador Renan Filho definiu o Mutum como a ave símbolo do Estado.
A ave é uma das mais raras do planeta. É genuinamente alagoana, específica do litoral sul, e começou a desaparecer por causa do desmatamento na região para a plantação de cana-de-açúcar. Isso aconteceu na década de 1980 e desde então alguns estudiosos brasileiros têm se empenhado na reprodução da espécie em cativeiro para que ela possa voltar ao seu habitat.
Um dos grandes incentivadores da preservação do mutum é o engenheiro civil Fernando Pinto, presidente do Instituto para Preservação da Mata Atlântica (IPMA), uma instituição não governamental que se dedica a proteger as espécies remanescentes da mata atlântica alagoana. Fernando contou de onde veio a motivação para o engajamento no retorno dessa ave para o Estado.
“O Mutum de Alagoas é uma das duas únicas aves no mundo que só existem em cativeiro; a outra é a ararinha azul. Também em todo o mundo, só existem duas espécies salvas a partir de um trio: o gavião que ocorre nas Ilhas Seychelles, na África, e o nosso mutum. Diante dessa raridade, me empenhei todos esses anos para reintroduzir essa espécie na natureza”, disse.
Foi o IPMA, juntamente com os pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), que trabalharam nos encaminhamentos para incentivar a criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) nas áreas pertencentes às usinas alagoanas, com o intuito de proteger o ambiente adequado para o animal. Dessa forma, até o final do ano, Alagoas terá cerca de 10 mil hectares de mata atlântica, e é em um desses espaços que o mutum voltará a viver.
De acordo com Fernando Pinto, as cerca de 230 aves existentes estão em Minas Gerais, aos cuidados do criador Roberto Azeredo. Neste segundo semestre quatro casais serão trazidos para Alagoas. Três serão soltos e um ficará em exposição no Centro de Educação Ambiental Pedro Nardelli, que está sendo construído em uma área de 978 hectares cedida pela Usina Utinga Leão, em Rio Largo.
“O Centro leva o nome do Pedro porque foi ele quem conseguiu salvar a espécie da extinção ao encontrar os últimos exemplares do bicho e preservá-los com a reprodução em cativeiro. Quando o local estiver pronto, a população terá a oportunidade de aprender tudo sobre o mutum e até fazer uma visita guiada ao viveiro gigante que abrigará as aves e chegar bem pertinho delas. Será uma experiência incrível para os visitantes”, explicou Fernando.
Para que a chegada do mutum receba a atenção necessária e que a segurança do animal após a soltura seja garantida, Fernando Pinto se reuniu com o governador Renan Filho, que elogiou a iniciativa e de imediato colocou o Governo do Estado à disposição para que esse projeto tenha sucesso.
“Vamos trabalhar nessa ideia e incluir a chegada desses mutuns na nossa relação de eventos do bicentenário. Com certeza esse será um dos grandes destaques desses 200 anos, portanto conte conosco para o que for necessário. O Governo do Estado entende a importância da reintrodução desse animal na natureza e apoia essa iniciativa. Tanto que também vamos elaborar o decreto de reconhecimento do mutum como ave símbolo do Estado de Alagoas”, declarou Renan Filho.
“Já começamos a nos organizar para as palestras nas escolas municipais e estaduais da região para falar da importância desse animal da preservação dele. Também vamos nos dedicar arduamente às fiscalizações nos grandes conjuntos residenciais ao redor da mata escolhida para a soltura e ainda dentro da mata para coibir os caçadores. Por ser uma ave mansa ela foi dizimada muito fácil e agora temos que estar ainda mais atentos para que isso não volte a acontecer”, explicou o comandante do Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), Ascânio Casado.
O secretário de Estado da Comunicação, Enio Lins, que integra a comissão dos 200 anos de Alagoas, foi o articulador do encontro entre o IPMA e o governador por reconhecer que o retorno desse alagoano para casa é algo que não pode passar em branco no ano do bicentenário.
“Essa ação é algo muito grande e o governo não poderia se furtar do compromisso de reintroduzir o mutum de Alagoas na natureza. Essa é uma das aves mais raras do planeta e merece ser o símbolo do nosso Estado nesses 200 anos”, finalizou.
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