Apesar de dizer na sua propaganda oficial que desativou as 35 minas de sal-gema, cuja exploração predatória resultou no afundamento do solo de pelo menos cinco bairros de Maceió, a Braskem é acusada de continuar minerando ou extraindo sal-gema dos poços desativados. Pelo menos é o que vem ocorrendo com as minas localizadas na Unidade do Mutange, próximo ao antigo campo do CSA. A denúncia foi feita por operários da mineradora, com imagens da sonda e do tanque de salmoura, onde a matéria-prima é despejada antes de ser descartada, na zona rural do município do Pilar.
Em mensagem enviada à redação da Tribuna Independente, os operários dizem que “a Braskem continua extraindo sal-gema das minas desativadas”, mas não explicam porque a matéria-prima estaria sendo descartada. Eles pediram anonimato, temendo retaliações. Mas como as imagens da bacia de salmoura sendo abastecida pelo caldo grosso de sal-gema misturada à água, a reportagem pediu explicações à mineradora. No entanto, a Braskem nem negou, nem confirmou a denúncia, muito menos deu explicação da onde vem aquela quantidade de salmoura que jorra da tubulação.
De acordo com informações dos operários, antes de tamponar as minas desativadas de sal-gema, com areia e cimento, a empresa estaria esvaziando as cavidades e descartando a borra num tanque de recebimento de dejetos, no Pilar. Segundo os denunciantes, um motorista da empresa terceirizada disse que faz o descarte desse material quase todo, mas não soube precisar os horários. “Não tem horário certo, existe sim um cronograma, a base encheu, o caminhão recebe a salmoura e leva para o descarte”, acrescentou o denunciante.
Mas, segundo ele, já aconteceu de ficar três, quatro caminhões parados, esperando carregar rejeitos. “Aí eles só vão lá, puxar o rejeito quando a salmoura está saindo da mina. Os motoristas vão lá e levam o material para ser descartados”, relatou um dos trabalhadores que fizeram a denúncia.
Trabalhadores temem pela saúde devido material tóxico
Para os operários, que trabalham nessa operação, “isso prova que a Braskem continua minerando, mesmo que a salmoura não esteja sendo transportada para a fábrica da petroquímica, no Pontal da Barra, pelos dutos, como acontecia antes da tragédia”. Os autores da denúncia são funcionários terceirizados e não entendem por que a empresa estaria escondendo essa operação. Além de represálias, eles temem pela saúde, já que o cheiro do material descartado é forte e enjoativo.
O Sindicato dos Trabalhadores em Indústrias Químicas e Petrolíferas de Alagoas e Sergipe (Sindipetro/AL-SE) disse que não tinha como avaliar se a operação do despejo da salmoura num tanque de dejetos, localizado no Pilar, é ou não prejudicial ao meio ambiente. Um dos diretores do Sindipetro explicou que a entidade atua em defesa dos trabalhadores, por isso a questão ambiental seria uma atribuição dos órgãos de fiscalização e controle, a exemplo do Ministério Público Federal (MPF) e Estadual (MP). Mas, se a saúde dos operários estiver em risco, o Sindicato pode solicitar uma fiscalização ao Ministério Público do Trabalho (MPT).
Lençol freático
Para a bióloga Neirevane Nunes, que milita no movimento de combate à mineração predatória, de acordo com as imagens disponibilizadas pelos denunciantes, estão usando estrutura de bacia de contenção de geomembrana que evita a passagem da salmoura para o lençol freático.
Empresa não se manifesta sobre as acusações
Segundo Neirevane Nunes, a empresa não é obrigada divulgar essa operação, mas teria que ter autorização do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) para fazer esse tipo de descarte. “Obrigatoriamente, a Braskem tem que ter uma licença ambiental para fazer essa atividade”, acrescentou a bióloga. A reportagem da Tribuna Independente, entrou em contato com IMA, por meio da assessoria de comunicação do Instituto, para saber se essa operação de descarte de salmoura no Pilar tem licença ambiental, mas até o fechamento da matéria, não tivemos retorno.
OUTRO LADO
A Braskem foi procurada, por meio da sua assessoria de comunicação, para se posicionar acerca da denúncia, mas não se manifestou. Até o final da tarde de ontem (31/7), não respondeu à pergunta, se confere ou não, a denúncia de que continua minerando sal-gema em Maceió. De acordo com a assessoria, a mineradora já teria dado a resposta sobre essa questão em outra ocasião, quando garantiu que todas as minas de sal-gema estavam desativadas e sendo tamponas com areia e cimento, e que essa operação estaria sendo acompanhadas pelos órgãos de fiscalização e controle.
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