Aos poucos, a rotina nos balneários de Alagoas está voltando ao normal depois do maior desastre ambiental na costa brasileira. A presença de petróleo cru nas praias do Nordeste manchou, além da água e da areia, a imagem dos principais destinos para os visitantes. Maragogi e Japaratinga ainda enfrentam os efeitos danosos da tragédia e tentam recuperar a economia, que tem como base o turismo.
Desde os primeiros momentos em que se espalhou a notícia de que o óleo avançou pelo mar, surgiram várias dúvidas. A principal delas era se este material vazado, até agora, de maneira misteriosa, era danoso ao ser humano e poderia deixar a água da praia imprópria. Sem estas explicações, os turistas cancelaram os pacotes que haviam adquirido. O reflexo era nítido: o litoral alagoano esvaziou.
Em Japaratinga, no Litoral Norte, o cenário era desolador e ainda não está recuperado. O impacto foi tão negativo deste vazamento que o último trimestre deste ano teve queda de 90% de visitantes ao município. A maioria desistiu de viajar com receio de que poderia ser contaminado com o óleo.
O secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico de Japaratinga, Joanyr Quirino da Silva, informou que um estudo elaborado por uma associação de turismo e pelo Conselho Municipal de Turismo expôs quão danoso foi o desastre ambiental para a economia da cidade. Para o primeiro trimestre de 2020, em plena alta temporada, há registro de redução de 98% na desistência dos pacotes já comprados nas agências de turismo.
Como o setor compreende mais de 50% do PIB [Produto Interno Bruto] de Japaratinga, o problema desestruturou completamente a área econômica do município. Os passeios de catamarã para as piscinas naturais, de jangadas e as hospedagens despencaram bruscamente. “Eu vi Japaratinga vazia em plena época em que a cidade vivia cheia de turista”, lamentou o secretário.
Somente na costa marítima que margeia a cidade, foram recolhidas mais de 700 toneladas de piche (petróleo cru) em um trabalho que mobilizou a comunidade, empresários, órgãos ambientais, o Exército e a prefeitura. O governo federal foi acionado pelo município para que complete o trabalho de limpeza. Segundo Joanyr Quirino, ainda é possível observar vestígios de óleo na região central e na localidade conhecida como Barreira de Boqueirão. Boa parte está enterrada e as camadas de areia precisam ser removidas.
A gestão está sob decreto de emergência. A medida foi tomada para facilitar a captação de recursos e ações prioritárias para amenizar os efeitos do desastre ambiental. Os gastos diários com a limpeza das praias naquela localidade alcançaram R$ 15 mil. Sem dinheiro para novas investidas, a prefeitura informa que, agora, depende da União para concluir o serviço de retirada do que restou do petróleo.
Para retomar a venda do destino, a gestão busca parcerias. Uma delas é convidar influenciadores digitais para visitar Japaratinga. A ideia é simples: os blogueiros gravam vídeos, fazem fotos e postam nas redes sociais, garantindo aos seus seguidores que o paraíso está livre de qualquer contaminação. Além disso, a prefeitura está com uma campanha publicitária no metrô de São Paulo mostrando o que o balneário tem de melhor para oferecer.
Os resultados destas iniciativas ainda estão sendo mensurados. Para o início do ano que vem, quando, nesta época, o destino estaria praticamente vendido, apenas 30% de ocupação na rede hoteleira são registrados até o momento, conforme revelou o secretário de Turismo. “Estamos correndo atrás do prejuízo, limpamos as praias, fizemos a nossa parte. Agora, garantimos que o nosso mar está limpo e não há risco para o turista. Venha visitar Japaratinga”, convida.
Desde 2014, o número de leitos nos hotéis tem aumentado significativamente no município. Eram cerca de 700 e este quantitativo mais que dobrou depois que novos empreendimentos foram inaugurados na região, incluindo um resort.
MARAGOGI TEM QUEDA NO FLUXO E ADIA ATIVIDADES DE VERÃO
Em Maragogi, as manchas de óleo nas praias espantaram os turistas. O material depositado no mar foi parar justamente num dos locais mais preferidos e vendidos aos visitantes, a praia de Antunes, para desespero dos ambulantes, comerciantes e da prefeitura. O prefeito Sérgio Lira chegou a convocar uma entrevista coletiva para revelar que o fluxo de turistas na cidade caiu 40% após o problema ser registrado. Até as atividades de verão por lá, neste fim do ano, foram adiadas para 2020.
Algumas semanas depois do ápice do desastre, a situação parece estar voltando à normalidade, conforme garante a secretária de Turismo de Maragogi, Tereza Dantas. Ela diz que as atividades do setor estão em alta agora após uma soma de esforços para que a economia não parasse.
A gestora disse que a presença do petróleo nas praias foi algo grave, no entanto, o mais devastador, na opinião dela, foram as notícias espalhadas pelas redes sociais e pela mídia de que o mar de Maragogi estava sujo.
“O nosso maior trabalho não foi limpar as praias, mas desmentir a mídia negativa em cima deste episódio. A luta ainda está sendo grande para provar a todos os visitantes que as praias estão limpas e não há motivo para deixar de visitar o nosso destino. Tem um mês praticamente que se vende a ideia, na mídia, de que Maragogi tem praias sujas de óleo e isto é mentira”.
Por lá, vestígios de óleo surgiram em seis localidades da costa marítima. Em todos estes, os pigmentos foram removidos com sucesso, conforme assegura a secretária de Turismo. “Há três semanas que não temos qualquer notícia de surgimento de novas manchas nas praias de Maragogi”.
Entre as estratégias para ‘desmentir’ a mídia, Tereza Dantas cita que a secretaria participou de feiras no Sudeste para exibir o destino e a cidade tem recebido blogueiros para, assim como Japaratinga, reforçar que o balneário está livre de resquícios de óleo. No entanto, admite que o impacto deste problema para o turismo é extremamente negativo.
“Tivemos que parar de divulgar o destino lá fora para desmentir a mídia de que as praias estavam sujas. Além disso, nesta época do ano não se encontravam mais vagas na rede hoteleira para o Natal e o Réveillon. Este ano, ainda é possível disponibilidades em pousadas. A exceção é dos resorts e grandes hotéis, que não têm mais vagas. Também tivemos que adiar as atividades de verão que executamos em dezembro”, destaca.
PREOCUPAÇÃO É COM A ALTA TEMPORADA, DIZ ABIH/AL
A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Alagoas (ABIH/AL) informou que a maior preocupação do momento é o esfriamento do turismo para a alta temporada, que só deve encerrar em abril do ano que vem, e a ocupação atual está bem abaixo do que se previa para esta época do ano.
O presidente da entidade, Milton Vasconcelos, confirma que o setor sofreu com alguns cancelamentos na hotelaria e muitas dúvidas surgiram por parte dos visitantes. A todo instante, havia gente interessada em atualizar o cenário para confirmar se a viagem a lazer era segura.
“Acredito que Alagoas foi um dos estados menos atingido pelas manchas de óleo, e as praias onde apareceram manchas foram rapidamente limpas em um esforço conjunto entre governos, empresários e população local. É difícil mensurar os prejuízos como um todo”, destacou o presidente.
Para atenuar a dificuldade, a ABIH/AL informou que direcionou os esforços para ações de divulgação do destino Alagoas na internet e nas redes sociais. Um trabalho grande com influenciadores digitais locais foi pedido para atualizar o público sobre a situação das praias. A presença em feiras de turismo também está sendo uma aposta válida.
“Durante o período mais crítico das manchas nas praias do Nordeste, participamos de feiras e estávamos em constante contato com agentes de viagens fornecendo boletins de informações e explicando que grande parte das praias alagoanas estavam limpas e próprias para banho. Acho que agir com transparência, fornecendo o máximo de informação para essas pessoas é crucial para manter essa confiança”, ressaltou.
Ele disse que, apesar das dificuldades ao longo deste ano, a exemplo da questão da malha aérea, a média de ocupação foi mantida, tendo, inclusive, superado a taxa do ano passado em alguns meses. E informou que, para o Réveillon, Alagoas está no topo do destino mais vendido de algumas agências de viagens.
“Reforço que a nossa preocupação é com a alta temporada, que ainda não atingiu a média do ano passado (começo desse ano). Com os incentivos fiscais do governo do Estado, novos voos foram atraídos e as tarifas estão reduzindo, o que torna um atrativo a mais para o turista vir. Em relação às manchas, poucas reservas foram canceladas. Agora no final do ano mesmo, estamos com média igual a do ano passado, mantendo quase 90% ocupação”, completou Vasconcelos.
Apesar do desastre ambiental, a entidade disse que não mudou o foco e mantém o trabalho de vender, lá fora, as belezas naturais disponíveis de Alagoas. “O mais importante foi explicar que o Estado tem um litoral vasto, de muitas praias bonitas, boas e próprias para banho, e que não foram atingidas pelas manchas. Pegamos como exemplo as praias de Maceió – da Jatiúca até a Pajuçara. Temos o Francês, Milagres e tantas outras praias onde o óleo não chegou”.
Além disso, reforça que as que foram atingidas estão limpas e sendo monitoradas de perto, com o Ibama já comprovando que estão próprias para banho. “Não temos porque vender outras atrações quando continuamos tendo o litoral mais bonito do País”, avalia.
Ele ressalta que, apesar do grande desafio de vender a alta temporada, há esperança de o cenário mudar, tendo em vista que não se vê óleo na costa alagoana há mais de três semanas e a malha viária está preços convidativos para Alagoas.
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