Um amontoado de roupas jogadas em um colchão que serve de cama no chão de um “quarto” improvisado. É nesse espaço, de aproximadamente três metros quadrados, que “reside” Carlos e Ana Paula, grávidos há quatro meses de gêmeos. O casal fez de lar a estrutura que sobrou da antiga sede do Tribunal de Contas da União (TCU) na Praia do Sobral, em Maceió, enquanto aguardam a chegada dos bebês.
Locais como este, onde podem haver riscos de desabar, voltaram a chamar a atenção após o desmoronamento de um prédio em São Paulo, nessa terça-feira, 1º, que deixou uma pessoa morta. Em Alagoas, o Ministério Público Estadual vai fazer uma pesquisa de prédios públicos ocupados por famílias sem teto, para pedir a realização de perícias em suas estruturas. Havendo risco de desabamento, os promotores responsáveis podem pedir na Justiça a demolição ou recuperação dos imóveis.
Na antiga sede do TCU, que o TNH1 visitou na manhã desta quarta, lixo, vidros quebrados, estrutura metálica corrompida pela maresia e o forte odor de dejetos humanos são a porta de entrada do imóvel da União que, hoje, é mais um que se insere na estatística de prédios abandonados pelo poder público, os quais terminam sendo a alternativa de abrigo para pessoas em situação de rua.
“Meu sonho de vida é criar meus filhos em um lugar melhor. Não desejo a minha realidade atual para eles”, disse Ana Paula que antes morava com o companheiro debaixo do emissário submarino na Avenida Assis Chateaubriand.
Sobre o prédio, o arapiraquense e companheiro de Ana, identificado apenas como Carlos, informou à reportagem que não se sente muito seguro na atual “moradia” e que sonha em ter condições de alugar uma casa para viver com a família.
“Antes eu fazia bicos como lavador de carros e eletricista, mas no momento não consigo encontrar serviços. Sendo assim, não tenho condições de arcar com aluguel de casa”, lamenta.
O prédio onde funcionava o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), na Praça dos Palmares, no centro de Maceió, também já foi abrigo para pessoas em situação de rua. Há cerca de um ano, o imóvel foi desocupado e nos dias atuais apenas dois vigilantes privativos ocupam o lugar e revezam os trabalhos de segurança patrimonial.
EDIFÍCIO PALMARES: MESMO DEPENADO, PRÉDIO CONTINUA ABRIGANDO MORADORES DE RUA
A poucos metros do antigo INSS, ainda na Praça dos Palmares, o prédio que já alojou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Ministério da Saúde apresenta uma estrutura ainda mais chamativa pela tamanha insalubridade.
Além da grande quantidade de lixo e forte odor, o imóvel, que já foi fechado com muros feitos de tijolos e cimento pelos órgãos públicos, ocupado novamente por moradores de rua, também serve de abrigo para usuários de drogas, segundo populares. No local, em fevereiro do ano passado, um corpo de um homem foi encontrado.
“Será que as autoridades não estão vendo isso? Eles [poder público] poderiam lacrar de novo, restaurar e alugar o prédio”, desabafou a doméstica e frequentadora do centro de Maceió, Zilma Costa.
O promotor de Justiça, José Antônio Malta Marques, coordenador do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça, disse que ainda não sabe precisar quanto prédios estão na mesma situação de abandono em Maceió, mas garantiu a realização de um levantamento e a solicitação de perícias ao Corpo de Bombeiros e à Defesa Civil para tomar as medidas cabíveis.
Fonte: TNH
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